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Sarney X Randolfe |
O clima esquentou na
sessão desta terça-feira no Senado Federal entre o senador Randolfe Rodrigues
(PSOL-AP) e o presidente do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado,
senador João Alberto (PMDB-MA). O motivo da refrega foi em relação à denúncia que
tramita no Conselho de Ética da Casa que investiga um suposto pagamento de
propina pelo hoje senador João Capiberibe (PSB-AP), na época que era governador
do Amapá, ao então deputado estadual Randolfe Rodrigues.
Ao usar a tribuna para
se defender das acusações da compra de apoio político na Assembleia Legislativa
e exigir que o Conselho de Ética arquive o caso, o senador Randolfe Rodrigues
atribuiu a perseguição à adversários políticos no Amapá para cassar o seu
mandato. De forma indireta, deu a entender que se tratava de uma ação
orquestrada do senador José Sarney (PMDB-AP) contra ele.
Randolfe garantiu que os
documentos são falsos e alegou no discurso que o Ministério Público no Amapá
decidiu não apenas arquivar o processo contra ele, como também processar o
denunciante por falsidade ideológica. Segundo o senador, sua assinatura foi
falsificada, o que foi comprovado judicialmente.
“Eu não posso aceitar e
admitir que esta história não fique às claras, que esta história vire conversa
de escaninhos, conchavos de bastidores.
o Procurador da
República não só diagnosticou a inexistência de qualquer veracidade sobre a
denúncia quanto a mim e quanto ao Senador Capiberibe, como também pediu a
investigação de falsidade documental, mais uma vez – mais uma vez! O presidente
do Conselho de Ética [sen. João Alberto] deveria se julgar impedido de conduzir
o processo. Vou acionar os meus advogados para representar contra o presidente
do Conselho de Ética”, disse Randolfe Rodrigues, referindo-se ao fato de João
Alberto ser um dos principais aliados políticos do senador José Sarney.
Ausente da sessão
naquele momento, ao tomar conhecimento do teor das declarações do senador do
PSOL do Amapá o presidente do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado,
senador João Alberto saiu do gabinete e foi direto ao plenário com uma farta
documentação sobre o caso. Sem esperar que Randolfe concluísse seu discurso que
proferia da sua bancada, João Alberto foi direto para a tribuna e acabou
advertido por um colega. “Isso é uma falta de respeito do senador João Alberto,
pois o senador Randolfe ainda está falando. Ele pensa que está no estado dele”.
De posse dos documentos
em mão, João Alberto ao se pronunciar da tribuna disse que apenas recebeu a
denúncia e deu os devidos encaminhamentos. Ele ressaltou que com os documentos
apresentados pelo denunciante há um laudo pericial que atesta a autenticidade
da assinatura de Randolfe Rodrigues em recibos que comprovaram que ele recebia
dinheiro do governo estadual. “Esses documentos, a não ser que se prove que são
falsos, dizem a verdade”, declarou João Alberto no plenário. O presidente
do Conselho de Ética contou que decidiu pedir à Advocacia do Senado um parecer
para saber se é válido o laudo pericial apresentado por uma das partes na representação.
Alberto frisou ainda que
teve cuidado para que nada fosse vazado à imprensa. Ele afirmou que não vai
arquivar o caso de imediato. “O perito afirma que saíram do punho dele a
assinatura. Como é que posso mandar isso para a arquivo. Vou colocar para análise
dos conselheiros”.
Em um dos apartes mais
vigorosos em apoio a Randolfe, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) disse que
daria “nome aos bois” e acusou o ex-presidente José Sarney, principal aliado do
presidente do Conselho de Ética, senador João Alberto, de estar por trás das
denúncias.
“A gente tem que
enfrentar isso com clareza e com transparência, sem subterfúgios. Acho que é o
ex-Presidente desta Casa, José Sarney, que está por trás disso. Primeiro,
porque o Presidente do Conselho de Ética não faz nada sem ouvi-lo. Ele não faz
absolutamente nada sem ouvi-lo. É do Estado do Maranhão. Repare que
coincidência. São três Senadores — cada Estado tem três Senadores da República:
vossa excelência, Randolfe, e o ex-Presidente da República José Sarney, que não
se encontra aqui. Então, seria importante que, quando ele se recuperasse,
falasse ao País, sem querer dar lições a ninguém, explicando por que um pupilo
dele, uma pessoa que é do Estado dele, que não contraria a orientação dele,
ainda não resolveu isso no Conselho de Ética”, afirmou Jarbas.
Exaltado, Randolfe
Rodrigues voltou a se defender e enfatizou que a denúncia foi arquivada na
Procuradoria Geral da República. “O recibo anexado à petição ao Congresso é
falso. As assinaturas foram comprovadas pela polícia do Amapá como falsas”,
argumentou. João Alberto interveio e disse que o senador amapaense estava
mentindo. “Não quero crer que teremos aqui o segundo Demóstenes Torres nesta
Casa”, alfinetou Alberto.
A maioria dos senadores
saiu em defesa de Randolfe. Pedro Taques (PDT-MT) cobrou o arquivamento dos
processos e disse que há “um cadáver putrefato no Conselho de Ética”.
“Estão utilizando
instituições do Senado como instrumento de vingança”, completou Armando
Monteiro (PTB-PE).
Na defesa de João
Alberto, o senador Mário Couto (PSDB-PA) fez um discurso inflamado. “Conhecemos
a seriedade e a honra do senador João Alberto. Conte como meu apoio, não se
deixe curvar por aqueles que querem acusar você e o senador José Sarney”.
DENÚNCIA - Antes de ser senador, eleito em 2010 pelo Amapá, Randolfe
foi deputado estadual em Macapá, ajudando a dar sustentação ao governo de João
Capiberibe (PSB-AP), que também se elegeu para o Senado na última eleição.
Ambos foram denunciados à Comissão de Ética do Senado Federal pelo ex-presidente
da Assembleia Legislativa do Estado do Amapá, Fran Soares Nascimento Junior. Na
denúncia enviada ao conselho de ética do Senado Federal, Fran acusa Capiberibe
de ter pago, durante seis meses, um mensalão de R$ 20 mil/mês a vários
parlamentares, para garantir a sustentação de seu governo, entre os quais
Randolfe.
Os processos que estão
em curso contra Randolfe no Conselho de Ética dizem respeito a denúncias da
década de 1990, quando Capiberibe era governador do Amapá e foi acusado de ter
feito pagamentos de R$ 20 mil para deputados aliados, entre eles a Radolfe. A
denúncia, que foi feita ao Senado por um cidadão, foi encaminhada por Renan
Calheiros (PMDB-AL) para a Procuradoria Geral da República (PGR), que a
considerou improcedente e arquivou. Mesmo assim, o Conselho de Ética continua
com os processos.
Renan encaminhou o
processo à PGR em março deste ano, mas Gurgel arquivou o caso. Os senadores
dizem que a acusação foi fraudada por documentos na época, uma vez que Randolfe
era o único aliado de Capiberibe na Assembleia Legislativa do Estado. Apesar do
arquivamento pela procuradoria, o conselho mantém o caso em aberto.
“Há perícias técnicas na
polícia do Amapá que comprovam tudo ser falso. A procuradoria também já
arquivou esse acaso”, disse Capiberibe.
Fonte: John Cutrim
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