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Beira-Mar e VP, conversas gravadas pela polícia: MA seria o paraíso da bandidagem |
O Fantástico teve acesso
ao conteúdo de uma conversa entre os traficantes Fernandinho Beira-Mar e
Marcinho VP.
Em
um trecho da conversa, Fernandinho Beira Mar diz: “No Maranhão eu tenho
fortíssimo lá, um desembargador que era amigo do Tular…”
O
Fantástico teve acesso ao conteúdo de uma conversa entre os traficantes
Fernandinho Beira-Mar e Marcinho VP. Aconteceu no dia dez de maio, no presídio
de segurança máxima de Catanduvas, no Paraná.
Para
a polícia, foi desse encontro entre os bandidos, autorizado pela Justiça, que
saiu a ordem para os ataques ao grupo AfroReggae, no rio de janeiro.
Os
instrumentos de percussão nunca mais serão usados. As perfurações de balas vão
ficar como marcas de uma sucessão de atentados que tentaram calar o AfroReggae.
O
projeto de inclusão social através da arte, que existe há quase 20 anos, é um
dos mais atuantes do Rio.
Em
pouco mais de um mês, a ONG foi vítima de incêndio criminoso e alvo de tiros,
num total de quatro atentados no Complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro, áreas
pacificadas.
O
coordenador da entidade, José Junior, disse que havia sido ameaçado pelo
tráfico e chegou a anunciar o encerramento das atividades no Alemão. Mas voltou
atrás.
A
explicação para a onda de violência contra o AfroReggae pode estar no presídio
federal de segurança máxima de Catanduvas, no Paraná.
Segundo
uma investigação da delegacia de combate às drogas do Rio, a ordem para os
ataques teria surgido de um encontro entre dois dos maiores traficantes do
país, que cumprem pena em Catanduvas: Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho
Beira-Mar e Márcio Santos Nepomuceno, o Marcinho VP.
O
encontro dos dois foi no dia 10 de maio. Fernandinho Beira-Mar, que cumpre pena
em uma galeria especial, monitorado 24 horas, pediu à Justiça para ter contato
com outros presos, porque estaria se sentindo sozinho. E foi autorizado.
Beira-mar recebeu a visita de Marcinho VP no parlatório. Tudo que foi dito ali,
ficou gravado em áudio e vídeo. O Fantástico teve acesso exclusivo, à íntegra
do conteúdo da conversa.
Na conversa, separado
por um vidro e por telefone, Marcinho diz que está tentando transferência para
um presídio estadual. E Beira-Mar dá força, se referindo a outros presos.
Beira-Mar:
O que eu penso, você saindo daqui para um estadual, já é uma vitória, de lá
você consegui ir para outro lugar igual o baby…O baby não, o Dinho está
tentando ir para o Maranhão.
Marcinho
VP: Eu também estou com um “corre” no Maranhão também, minha advogada está
fazendo…
Fernandinho
oferece ajuda: No Maranhão eu tenho fortíssimo lá, um desembargador que amigo
do Tular…
Marcinho
VP: Sei, mas aí tem outras pessoas também que estão vendo a vaga pra mil lá.
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Fernandinho oferece ajuda: No Maranhão eu tenho fortíssimo lá, um desembargador que amigo do Tular… |
Na
conversa com Marcinho, Beira-Mar dá outra sugestão.
Beira-Mar:
O pastor Marcos não tem igreja lá?
Marcinho
VP: Tem. Teve um problema com ele lá agora, lá no Rio. Prenderam ele lá no Rio.
O
pastor Marcos Pereira é líder da igreja Assembléia de Deus dos Últimos Dias.
Ficou conhecido por ajudar, com a religião, a recuperar dependentes químicos e
criminosos.
Ele
está preso há três meses, acusado de estuprar fiéis. E é investigado por crimes
de homicídio, associação ao tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.
José
Júnior foi um dos que denunciaram o pastor.
Nós fizemos denúncias
sobre ele, uma pessoa que estuprou. Que há 20 anos havia uma suspeita, só que
ninguém teve coragem de fazer essa denúncia. Eu e outras pessoas tivemos essa
coragem e fizemos isso, e sempre soubemos que sofreríamos retaliações, cara”,
afirma José Júnior.
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Pastor Marcos Pereira: preso por estupro também já esteve no Maranhão |
Na
conversa entre os dois traficantes, Marcinho VP acusa José Júnior de ter
forjado as denúncias.
Marcinho
VP: vítima daquelas acusações levianas lá, que estava lá, do Júnior.Compraram
um montão de testemunhas para dar depoimento contra ele…”
Beira-Mar
reforça a acusação contra José Júnior. E diz a frase que chamou a atenção da
polícia.
Beira-Mar:
Tipo assim, compraram, compraram é eufemismo, foi o Juninho que estava por trás
disso né. Tinha que mandar um salve lá para ele.
Segundo
a polícia, a expressão ‘salve’, na linguagem dos bandidos, significa ataque,
represália.
Dezesseis
dias depois dessa conversa aconteceu o primeiro ataque ao Afroreggae. No dia
dois de agosto, os dois foram punidos com dez dias de isolamento.
O
promotor que ajudou na condenação de Marcinho VP diz que a autorização para o
encontro de dois bandidos tão perigosos é sempre um risco.
“Talvez
tenha se menosprezado o poder que esses dois ainda ostentam. Se na unidade mais
segura que nós temos no Brasil eles conseguem fazer o que fizeram, quem dirá o
que fariam se estivessem em qualquer outra unidade, em qualquer outro estado do
Brasil”, destaca o promotor André Guilherme Freitas.
O
delegado que investiga os atentados foi até Catanduvas ouvir Fernandinho
Beira-Mar e Marcinho VP.
O
Fantástico também teve acesso aos depoimentos.
Beira-mar
disse que não deu qualquer ordem para os atentados porque não tem esse poder e
porque não teria motivos.
Marcinho
VP também negou envolvimento nos atentados. E disse que entendeu a expressão
‘dar um salve’ como mandar um alô, um recado para que José Junior e o pastor
Marcos parassem de brigar.
A
polícia não acredita nessas versões. “Nenhum chefe de favela realiza qualquer
ação sem que o chefe da facção autorize esta ação. Pelo que a gente tem
informações, o chefe da facção, como, dessa facção, seria o Marcinho VP, diz o
delegado Márcio Mendonça.
O
advogado do pastor Marcos Pereira diz que a conversa entre os traficantes é uma
prova da inocência do seu cliente.
“Para
mim é uma prova contundente, cabal, de que infelizmente o pastor Marcos Pereira
da Silva está sofrendo injúrias. Eu estou requerendo inclusive que este
acusador-mor, José Junior, seja ouvido pela Justiça”, declara o advogado Luiz
Carlos Silva Neto.
Junior
nega que tenha forjado testemunhas como disseram os traficantes. “Quando eles
falam que a gente está pagando, a informação não é uma informação correta.
Então eu acho que existe também interesses de outras pessoas, de colocarem eles
contra a gente”, diz.
E
diz que teme pela vida de jovens ajudados pelo AfroReggae.
“A
situação hoje é uma situação muito difícil, muito delicada, e não é delicada
para mim, é delicada pra quem é do AfroReggae e mora lá dentro”, destaca.
Fonte: Raimundo Garrone
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