Autoridades interinas impuseram
estado de emergência e toque de recolher. Comunidade internacional condenou
repressão a manifestantes islamitas.
Corpos de membros da Irmandade Muçulmana e de outros apoiadores de Mohamed Morsi são reunidos em uma sala da mesquita Rabaa Adawiya, onde eles estavam acampados em protesto, no Cairo |
O governo do Egito anunciou nesta quarta-feira (14) a imposição de estado de
emergência e toque de recolher por um mês no país, após os confrontos de rua
entre forças de segurança e manifestantes islamitas que mataram pelo menos 235
pessoas e deixaram 2.001 feridas, segundo o Ministério da Saúde, e chocaram a
comunidade internacional.
O estado de emergência começou às 16h locais (11h
de Brasília). A presidência pediu ao exército que ajude o Ministério do
Interior a "impor a ordem" no dividido país.
O toque de recolher vale para o Cairo em 11
províncias, de 19h às 6h.
O massacre provocou repúdio internacional e levou o
vice-presidente interino do Egito, o diplomata e Nobel da Paz Mohamed
ElBaradei, a anunciar sua renúncia ao cargo pouco depois
da implantação do estado de emergência.
CRISE APÓS GOLPE MILITAR - Segundo a imprensa local, os confrontos seguem intensos na capital do
país, cada vez mais afundado na crise política após a derrubada do presidente
islamita Mohamed Morsi, no início de julho, por um golpe militar apoiado por
parcela da população.
Os islamitas pedem que Morsi, primeiro presidente
eleito da história do país, seja reconduzido ao cargo. Os militares
descartaram, acusando-o de não ter governado "para todos os egípcios"
mas apenas para seu grupo, a Irmandade Muçulmana, mas prometeram uma transição
de volta à democracia.
VÍTIMAS - Segundo o
Ministério da Saúde, 235 pessoas morreram, 43 delas policiais, e mais de 2.001
ficaram feridas nos confrontos desta quarta. A princípio, houve alguma confusão
sobre se a cifra de 235 incluía os policiais mortos.
O número de mortes deve aumentar, à medida que
novos relatos de violência em vários pontos do país continuam surgindo.
A Irmandade Muçulmana e a imprensa falam em até 600 mortos.
O grupo islamita também relatou que a filha de 17
anos um de seus líderes, Mohammed al-Beltagui, está entre os mortos. Ela teria
sido baleada no peito e nas costas durante o avanço da polícia na praça de
Rabaa al-Adawiya.
PEDIDO DE RESISTÊNCIA - Horas após o início do estado de emergência, milhares de islamitas
que ocupavam uma praça no Cairo deixaram o local, que foi totalmente controlado
pela polícia.
O ministro Mohamed Ibrahim afirmou que novos
acampamentos de protesto não serão permitidos.
Apesar disso, um grupo de partidários de Morsi, a
Aliança Anti-Golpe, pediu que os egípcios façam protestos nacionais contra o
que chamaram de "golpe militar".
A polícia do Egito prendeu duas altas autoridades
da Irmandade Muçulmana, Mohamed El-Beltagi en Essam El-Erian, após o massacre.
Também foi preso o clérigo islamita Safwat Hegazi.
PREOCUPAÇÃO INTERNACIONAL - A situação tensa no Egito, o mais populoso dos países árabes,
preocupa a comunidade internacional.
Os EUA deploraram a violência e afirmaram que estão revendo a ajuda econômica ao Egito.
A União Europeia, por meio da chefe da diplomacia
Catherine Ashton, pediu o fim do estado de emergência o mais rápido possível.
O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon
condenou com veemência a intervenção das forças de segurança contra a população
egípcia e criticou as autoridades no poder por terem optado pelo uso da força.
"Estou muito preocupado com a escalada de
violência e a instabilidade no Egito", disse o ministro britânico das
Relações Exteriores, William Hague, em um comunicado. "Condeno o uso da
força para dispersar as manifestações e peço às forças de segurança que atuem
com moderação."
O chefe da diplomacia alemã, Guido Westerwelle,
pediu a todas as forças políticas egípcias que impeçam uma escalada da
violência.
A França também advertiu contra o uso
desproporcional da força e pediu calma, enquanto Berlim defendeu "a
retomada imediata das negociações" para evitar "um derramamento de
sangue".
"A comunidade internacional, liderada pelo
Conselho de Segurança da ONU, deve imediatamente passar à ação para cessar com
este massacre", exigiu o primeiro-ministro turco islamita Recep Tayyip
Erdogan.
O Irã condenou a matança, segundo um comunicado
publicado pela agência Fars. "O Irã acompanha de perto os amargos
acontecimentos no Egito condena a matança da população e adverte sobre suas
graves consequências", indica o texto.
O Qatar, principal apoio da Irmandade Muçulmana,
denunciou com veemência a intervenção da polícia contra "manifestantes pacíficos".
MILITARES PRESSIONAM - A ação para acabar com os acampamentos parece frustrar as esperanças
restantes de trazer a Irmandade Muçulmana, o grupo de Morsi, de volta ao palco
político central, e destacou a impressão compartilhada por muitos egípcios de
que os militares apertaram o controle.
A operação também sugere que o Exército perdeu a
paciência com os persistentes protestos que imobilizavam partes da capital e
retardavam o processo político.
Tudo começou logo após o amanhecer, com
helicópteros sobrevoando os acampamentos. Tiros foram disparados enquanto os
manifestantes, entre eles mulheres e crianças, fugiam de Rabaa, e a fumaça
subiu sobre o local. Veículos blindados avançaram ao lado de tratores que
começaram a derrubar as tendas.
O governo emitiu um comunicado dizendo que as
forças de segurança mostraram o "maior grau de autocontenção",
refletido em poucas baixas diante do número de pessoas "e do volume de
armas e violência dirigidos contra as forças de segurança".
O governo, que prevê novas eleições em cerca de
seis meses para devolver o regime democrático ao Egito, instou os manifestantes
a não resistir às autoridades, acrescentando que os líderes da Irmandade
Muçulmana devem parar de incitar a violência.
SUNITAS SE DISTANCIAM - A mesquita Al-Azhar do Cairo, principal autoridade sunita do mundo e
que havia apoiado a destituição de Morsi, se distanciou da violência desta
quarta.
"Al-Azhar informa aos egípcios que não tinha
conhecimento dos métodos utilizados para dispersar os protestos, a não ser
pelos meios de comunicação", afirmou o imã Ahmed al-Tayyeb.
Fonte: G1
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