O médico Kinglsley Ify
Umeilechukwu, preso na tarde do último sábado (23) em Bacuri, acusado do
exercício ilegal da profissão, conversou a com redação do site Maranhão da
Gente explicando os problemas que envolveram a prisão dele, ocorrida na semana
passada e considerada pelo médico uma atitude arbitrária. Ele adiantou que irá
processar o Estado por danos morais e assédio.
Maranhão da Gente: Por que você veio para o
Brasil e desde quando presta serviço em nosso país?
Kinglsley: Estou há quase seis anos
no Brasil. Me formei em Medicina e exercia minha profissão no meu país
normalmente, quando recebi um convite da UFMA para vir fazer uma especialização
na área de ortopedia no Hospital Dutra. Para regularizar a minha situação
prestei o Revalida em dois estados, Mato Grosso e Minas Gerais. No Mato Grosso
entrei com uma ação judicial para ter a prova reconhecida. Em Minas
Gerais, já fui aprovado e começo o curso complementar agora em Janeiro de 2014.
São muitas as exigências, inclusive referente ao idioma e eu já fiz a prova em
Belém e fui aprovado.
Maranhão da Gente: Existem outros
companheiros da Nigéria atuando no Maranhão?
Kinglsley: Se existem, eu
desconheço. Conheço apenas o meu cunhado, o Patrick Emanuel, que já está
formado há mais de trinta anos pela UFMA e trabalhando aqui no interior do
Maranhão.
Maranhão da Gente: O que de fato aconteceu
para que você viesse a ser preso, sem a devida apuração?
Kinglsley: Eles me prenderam
simplesmente porque eu sou negro. Porque não aceitam ou admitem que negros,
como eu, podem sim exercer a medicina, ter oportunidade de estudar, de
trabalhar e de prestar serviço a outras pessoas. Quando me prenderam sequer me
perguntaram se eu tinha ou não a documentação. A minha maior revolta é que me
colocaram na televisão como um bandido, como um assassino. Eu pedi para falar
com a imprensa, eles me colocaram numa sala e me impediram até de explicar o
que aconteceu no hospital. O que eles queriam era mascarar as péssimas
condições de trabalho da saúde pública. Queriam esconder que menina morreu
porque não tinha vacina no posto médico. E está tudo documentado. Eu não era o
médico responsável, estava lá apenas acompanhando o Dr. Ubiratan, o verdadeiro
médico responsável. O grande problema é a cor da minha pele, o meu cunhado,
assim como eu, também passa por constrangimentos. Tudo isso foi orquestrado
para me prejudicar.
Maranhão da Gente: Você pretende processar o Estado por
todo esse constrangimento?
Kinglsley: Sem dúvida. Eu não posso ficar calado com tanta estupidez.
Me deixaram exposto e não me deram direito de defesa. Nunca me passei por
médico, eu sou médico. Não estou autorizado a exercer a Medicina aqui no Brasil
por uma questão burocrática e respeito isso, mas não podem me tirar o direito
de acompanhar um profissional do país para aprender, para a aprimorar a prática
profissional.
Fonte: Raimundo Garrone
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