O
jornalista Luís Henrique Silva de Sousa, 54 anos, um dos candidatos a
presidente do diretório estadual do PT no Maranhão, concedeu entrevista onde
fala da possibilidade de comandar o partido no estado e da atual aliança da
sigla com o PMDB. Para ele, a adesão do PT ao governo Roseana Sarney, liderada
pelo vice-governador Washington Luiz, representa um grande retrocesso.
“Trouxe
graves consequências para o PT. Não temos relevância (o que não me surpreende),
o vice-governador ocupa função protocolar, está lá para dar posse e fazer
discurso nas solenidades que a governadora não quer ir. A relação é servil,
humilhante. As secretarias são arranjos políticos”, critica.
Atualmente,
Henrique Silva desempenha o papel de Assessor Parlamentar do deputado Zé Carlos
do PT e é um dos coordenadores do Coletivo PT para Todos, instituído em 2013.
No Processo de Eleição Direta (PED), ele terá com principais adversários o
atual presidente Raimundo Monteiro (Construindo um Novo Brasil, defende
reedição da aliança com o grupo Sarney), Augusto Lobato (Resistência Petista,
aliança com o PCdoB de Flavio Dino) e Eri Castro (apoio a Flávio Dino).
Henrique
e Lobato já fecharam um acordo estarão juntos no segundo turno contra Monteiro.
Acompanhe,
a seguir, a entrevista:
Por
que você quer ser o presidente do PT?
Henrique –
Não é uma decisão minha tão somente, mas de vários companheiros e companheiras
petistas. Uma candidatura que nasce essencialmente em um ambiente coletivo, de
gerações distintas, correntes e tendências internas. No grupo existem
companheiros com os quais convivo e milito há anos, mas também aqueles que não
se relacionavam politicamente conosco até bem pouco tempo, todos nós afetados
pelos lados que defendíamos. De repente nos encontramos, dialogamos e queremos outro
caminho para o PT.
Quero
ser o presidente do diálogo; da descentralização do PT, com a implementação das
sedes regionais; do PT que traga os grandes quadros que possui para debater e
discutir com a sociedade maranhense, temas relevantes da pauta nacional, como a
reforma política. Quadros como o do ex- presidente Lula, Marilena Chauí, Tânia
Bacelar; de um PT que seja capaz de produzir uma proposta de desenvolvimento
para o nosso estado a partir dos nossos intelectuais e do movimento social.
Quero ser presidente e, junto com as demais forças, poder definir um projeto
político próprio. Pretendo desembarcar o partido que hoje ocupa espaço na
imprensa pelas desavenças de suas lideranças, sem mascarar nossas diferenças,
mas que seja capaz de ser celeiro e estuário dos temas e projetos relevantes
para o povo. É isso o que a população espera de nós.
Sei
que a missão é difícil e desafiadora, sei que estamos enfrentando a conjuntura
mais complexa da nossa história, em um ambiente interno de crise profunda – inclusive
com a desfiliação de alguns dos nossos quadros mais significativos -, mas me
sinto preparado para enfrentar as adversidades e contribuir com o entusiasmo de
minha militância para um PT forte, um PT protagonista.
O
que significa o Coletivo PT para Todos?
Henrique – É
um ideal. É uma possibilidade de transigir. É construir, na adversidade, a
unidade na ação. É lutar por um PT republicano. É lutar contra a ideia do
hegemonismo que tanto mal nos causou. É nos libertar das amarras que nos tem
aprisionado durante os últimos 20 anos do PT de Washington ou PT de Dutra. É
fazer com que esta prática seja passado. É o confronto intransigente com o
personalismo. Pretendemos, enquanto grupo interno, debater e defender à exaustão
nossas ideias, sem, contudo, enquanto comando, deixar de encaminhar ou boicotar
o que a maioria decidir. É dialogar mais com os de dentro do que com os de
fora. A proposta é clara: é um PT de todos e para todos os petistas.
Qual
sua opinião sobre a política de alianças adotada nas últimas eleições pelo PT
do Maranhão?
Henrique
– A política de alianças no estado representa um retrocesso em nossas
aspirações como partido, o que trouxe graves consequências para o PT. Agora
mesmo é ela a responsável pela debandada de companheiros históricos. Por outro
lado, temos sido coadjuvantes em projetos alheios. Foi assim com Jackson,
quando o governo era comandado por forças conservadoras – principalmente
lideranças do PSDB – e ficamos na periferia.
A
situação não é diferente hoje com o PMDB. Não temos relevância (o que não me
surpreende), o vice-governador ocupa função protocolar, está lá para dar posse
e fazer discurso nas solenidades que a governadora não quer ir. A relação é
servil, humilhante. As secretarias são arranjos políticos.
Quando
você encara as experiências municipais, a situação é pior. Hoje há lideranças,
vereadores petistas, que acatam as determinações políticas dos prefeitos,
ignorando o próprio partido. É comum ver petistas apoiando deputados de outros
partidos, comandados muitas das vezes por prefeitos do próprio PT. Em 2010,
somente um prefeito petista apoiou candidato do PT a federal e estadual; isso
porque o estadual era irmão dele, o que tende a não se repetir, pois o dito
irmão não está mais no PT.
A
política nacional de aliança é uma necessidade para governabilidade, mas serve
ao nosso projeto. No estado e nos municípios tem sido o inverso. Os projetos
políticos pertencem aos aliados nacionais, que nos submetem a uma conveniência
político-eleitoral que é danosa para o futuro do PT no Maranhão. Precisamos nos
reencontrar enquanto projeto partidário.
Fonte: Jorge Aragão
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