decorre de virtudes, “deriva de atitudes
atabalhoadas e ilegais, segundo juristas de diferentes matizes”
O colunista da
Folha de S. Paulo Ricardo Melo diz que, por atitudes ilegais, Joaquim Barbosa
cresce no cenário político e isso, segundo ele, é só o começo. Leia:
Nivelando por baixo
Notoriedade
de Barbosa decorre não de virtudes, mas sim de atitudes atabalhoadas e ilegais
Pródiga
em fornecer matéria-prima para chargistas e colecionadores de frases, a vida
política brasileira experimenta um momento inesquecível. Os desdobramentos do
julgamento do mensalão não cessam de emprestar combustível a quem presta um
pouco de atenção aos jogos do poder.
O
personagem do momento não é nenhum dos condenados; mesmo o motivo da ação foi
relegado a plano secundário. Joaquim Barbosa --esse é o cara da vez, como se
diz. Infelizmente, sua notoriedade não decorre de virtudes. Deriva de atitudes
atabalhoadas e ilegais, segundo juristas de diferentes matizes.
O
showmício das prisões já foi suficientemente dissecado para mostrar as
irregularidades do arrastão aéreo da Polícia Federal. Mesmo o ministro Marco
Aurélio Mello, que de petista, lulista ou coisa parecida não tem nada,
assustou-se com o espalhafato barbosista. Mas a coisa seguiu em frente --e tão
espantosos quanto os procedimentos são as observações disseminadas pelos
súditos do ilustre "justiceiro".
Uma
das principais: os mensaleiros devem ser tratados como qualquer prisioneiro,
sem direito a regalias. Nada a objetar. Mas vamos por partes, ou por fatias,
para ficar na moda. Todos são iguais perante a lei, reza a democracia formal.
Mas a lei, a pena, não é igual para todos, simplesmente porque nem todos
cometem os mesmos crimes.
Passa
pela cabeça de gente bem-intencionada colocar um mensaleiro no RDD e um Marcola
ou Chico Picadinho cumprindo pena alternativa? E, diga-se a verdade, o que
chama a atenção não são privilégios dos novos condenados, mas o fato de se
negar a eles o que preveem os trâmites de execução penal.
A
sequência é ainda mais falaciosa. Aponta o contraste entre a situação
sub-humana em que vive a esmagadora maioria da população carcerária com os
supostos benefícios recebidos por hóspedes engravatados. Com estridência
variada conforme a mídia de que se servem, comentaristas são enfáticos,
categóricos. Propõem nivelar tudo por baixo.
Os
presos ditos comuns se amontoam em celas, engolem o pão que o diabo amassou,
tomam banho frio sem sabonete e se revezam na hora de dormir, pois falta espaço
nas gaiolas carcerárias. Que assim seja então com todo mundo.
Nem
é preciso ser adepto de algum partido para perceber tamanha regressão
civilizatória. Não, não se trata de humanizar as cadeias e dar condições dignas
a seus ocupantes, mas sim de animalizar os adversários políticos de ocasião.
Ver as coisas de forma justa --por mais nuances que o termo apresente no
decorrer dos tempos-- e sem o ranço da vingança irracional (ou eleitoral)
implica admitir que o responsável pela condição degradante das penitenciárias
não é o governo x ou y. E sim um sistema velho de séculos e que ninguém, nem
PT, PSDB, PMDB, UDN, PSD ou qualquer outro partido ocupante do poder teve a
coragem de afrontar.
Por
trás da "justiça" propagada pelo áulicos do barbosismo, surge o
desejo indisfarçável de reviver, com o mensalão, o clima da vassoura, do
caçador de marajás, da república do Galeão, da banda de música e dezenas de
personagens "incorruptíveis" que não resistiram ao exame da história
ou a um grampo telefônico. Tão desalentador quanto o rebaixamento do debate,
num país de inúmeras carências como Brasil, é notar que o estandarte do momento
ocupa um cargo de importância indiscutível. E a campanha eleitoral mal começou.
Fonte: Brasil 247
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