Quanto mais
rico o país, mais os filhos demoraram a sair de casa. Indicadores sociais mostram avanços na formalização do mercado.
A "geração
canguru", aquela formada por jovens entre 25 e 34 anos que ainda moram com
os pais, e que no Brasil cresceu nos últimos dez anos, é fenômeno mundial,
segundo Wasmália Bivar, presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), que nesta sexta-feira (29) apresentou a "Síntese de
Indicadores Sociais – Uma análise das condições de vida da população brasileira",
que mostra a evolução da sociedade em dez anos, de 2002 a 2012.
Segundo Wasmália, o conforto
e o comodismo ou a falta de condições financeiras não são os principais fatores
que mantêm esses jovens na casa dos pais, mas a possibilidade de investir na
formação para ter mais chances no mercado de trabalho. Desses jovens, 60% são
homens e 40%, mulheres, em faixas de renda mais altas.
A presidente do IBGE diz que essa
situação vem se construindo na medida em que surgem as exigências de maior
qualificação para mercado de trabalho. Em 2002, 20% dos jovens entre 25 e
34 anos viviam com os pais; em 2012, o percentual subiu para 24%.
Segundo ela, é um fenômeno
mundial, quando mais rico o país, mais os filhos querem ficar na casa dos pais.
"O que vimos é o
prolongamento da formação dessas pessoas nas rendas mais altas. Eles ficam em
casa para estudar por mais tempo. Fazem graduação, mestrado, doutorado na casa
dos pais e retardam a criação de uma nova família. No caso das mulheres, ainda
tem outro fator: muitas ficam em casa para cuidar de pais doentes ou dos que
precisam de algum apoio", explicou.
OS NEM-NEM - Diferente da "geração canguru", os
"nem-nem", aqueles jovens de 15 a 29 anos que nem estudam nem
trabalham, são compostos em sua maioria por mulheres entre 25 a 29 anos, e,
segudo Wasmália, é um fenômeno recente que tem chamado a atenção.
"A pesquisa muda a
perspectiva que tínhamos. Ao contrário da geração canguru, o predomínio é
de mulheres que têm filhos e tomam conta deles. Isso remete a uma questão
antiga, que é a diferença nas condições do mercado de trabalho entre homens e
mulheres. Na medida em que existe infraestrutura para que a mulher possa deixar
seus filhos em segurança para ir trabalhar ou estudar, esse quadro vai se
modificando. Isso aponta para a necessidade de políticas públicas
voltadas para a criação de creches", disse.
Para ela, é necessário que as
iniciativas públicas que já existem no sentido de criação de creches sejam
globais para atender à população como um todo.
"A posição da mulher na
sociedade brasileira e no mundo está se afirmando e esse processo aconetece
através da participação no mercado de trabalho. Na medida em que a evolução
ocorre, essas jovens certamente evoluirão para entrar no mercado, tendo filhos
ou não", afirmou.
As "nem-nem" são
mulheres de faixas educacionais mais baixas, com menor nível de instrução e
menos vínculos com o mercado de trabalho, diz a pesquisa do IBGE.
MERCADO DE
TRABALHO - Para a presidente do IBGE,
um aspecto positivo mostrado na pesquisa é a formalização do mercado de
trabalho, identificado tanto pelo aumento de profissioais cm carteira assinada
como pela contribuição ao INSS, "que é uma formalização no mercado",
disse.
"Houve grandes avanços,
a formalização do mercado acontece no momento em que o rendimento do trabalho
cresce em todas as rendas e categorias. No Brasil, a formalização vem
acompanhada de aumento de renda. E o interessante é que esses aumentos
ocorreram em regiões tradicionalmente marcadas por relações mais frágeis de
trabalho como no Nordeste", disse.
AVANÇOS E
GANHOS - Segundo Wasmália, os
indicadores mostraram avanços e ganhos para a sociedades em dez anos, seja em
renda, educação, saneamento, acesso a serviços, mas para ela, a redução da taxa
de mortalidade infantil mostra de forma sintética esses avanços.
"Para reduzir a taxa de
mortalidade infantil, é preciso que tenha aumentado a renda, o saneamento e o
acesso aos serviços. Houve uma expressiva redução em dez anos, estamos próximos
de alcançar os objetivos e metas do milênio", disse.
As metas do milênio preveem
um patamar de 17,9 óbitos por mil nascidos vivos, e em 2010 o Brasil chegou
perto, com 18,6 óbitos por mil nascidos vivos, explicou Wasmália.
Fonte: G1