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| Cunha: ‘Vetou-se acordo que firmei com a Gleisi, dentro do Jaburu, com o Temer redigindo o texto’ | 
O deputado Eduardo Cunha, líder do PMDB na Câmara, não gostou dos vetos
que Dilma Rousseff apôs à medida provisória dos portos, agora convertida em
lei. “Eu vou encaminhar no plenário para derrubar os vetos”, disse ao blog o
correligionário do vice-presidente Michel Temer. “O PMDB votará para derrubar
os vetos”, ele acrescentou, categórico.
Ao anunciar os dez vetos de Dilma, a ministra
Gleisi Hoffmann (Casa Civil) disse que “todos os acordos feitos com o Congresso
Nacional, seja com os trabalhadores, seja no âmbito da comissão mista, foram
cumpridos.” Não é bem assim, contesta Eduardo Cunha. Segundo o deputado, a
própria Gleisi firmou com ele um acordo que não foi honrado pela presidente.
Refere-se ao veto que suprimiu da nova lei o trecho
que estabelecia que os contratos de arrendamento nos portos públicos assinados
depois de 1993 poderiam ser prorrogados por uma vez, mediante o compromisso de
investimentos em expansão e modernização. “Isso foi, sim, objeto de acordo”,
disse Eduardo Cunha.
Ele desceu aos detalhes: “Foi um acordo firmado com
a Gleisi dentro do Jaburu [residência oficial do vice-presidente], com o Michel
Temer fazendo o texto. O veto, de certa forma, foi uma coisa agressiva. Um
erro.”
Adversário de Eduardo Cunha na política do Rio de Janeiro, o líder do
PR, Anthony Garotinho, batizara de “Tio Patinhas” a emenda do seu desafeto.
Consumado o veto, ele soltou fogos em seu blog.  “Foi tudo o que eu
pedi e era tudo o que eu esperava da presidente Dilma. Uma vitória do Brasil e
uma derrota dos lobistas que frequentam o plenário do Congresso.”
Eduardo Cunha, que chama Garotinho de “batedor de
carteira”,  sustenta que o problema da votação dos portos não estava na
sua emenda, que acabou sendo empurrada para dentro da medida provisória por
iniciativa do deputado Sibá Machado (PT-AC). Em timbre acusatório, o deputado
declara: “A presidente vetou coisas que não precisava ter vetado e deixou no texto
uma coisa absurda, que ela deveria ter vetado.”
De acordo com Eduardo Cunha, o “absurdo” mora no
parágrafo único do artigo 59 da lei sancionada por Dilma. Nesse ponto, segundo
ele, o texto trata dos casos de empresas que protocolaram, após a edição da
medida provisória, pedidos de autorização para atuar nos portos. Caberá ao
governo, como poder concedente, deferir os pedidos.
“Isso vai beneficiar apenas três pessoas”, insinua
Eduardo Cunha. “É presente de amigo. Atende a interesses que nós não sabemos
quais são. Vou fazer um requerimento de informações à Antaq [Agência Nacional
de Transportes Aquaviários], para saber quem protocolou pedido de autorizaçao
com base nesse artigo 59, parágrafo único. Quero saber quem são os
beneficiários desse artigo.”
Perguntou-se ao deputado se falava em seu próprio
nome ou como representante de sua bancada. Eduardo Cunha respondeu que, como
líder, expressa a opinião dos liderados. Afirmou que o mal-estar não se
restringe ao PMDB. Foi procurado, por exemplo, pelo colega Paulo Pereira da
Silva (PDT-SP), o Paulinho.
Presidente da Força Sindical, Paulinho se considera
desrespeitado. Sustenta que Dilma passou na caneta medidas de proteção aos
trabalhadores do setor portuário que ele havia negociado com Eduardo Braga,
líder do governo no Senado e relator da MP dos Portos. O líder do PMDB
solidarizou-se com Paulinho, que já arregimenta apoios para derrubar os vetos
de Dilma.
Pela Constituição, os vetos devem ser apreciados em
sessões conjuntas do Congresso, com deputados e senadores. Para que isso
ocorra, é preciso que os vetos sejam incluídos na pauta de votações pelo
senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que acumula as presidências do Senado e do
Congresso.
Por uma dessas coincidências infelizes para o
Planalto, Renan reunira-se com o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves,
horas antes de os vetos de Dilma virarem notícia. Conversaram sobre a
necessidade de dar um destino para os vetos que aguardam na fila de votações.
São mais de 3 mil.”
Após conversar com Renan, Henrique Alves relatou os
planos do senador ao colégio de líderes da Câmara. Disse que haverá uma reunião
na próxima semana para negociar com os partidos uma forma de livrar o Congresso
do vexame do monturo de vetos. “Essa Casa não aceita mais essa situação”,
comentou Eduardo Cunha.
Ele prosseguiu: “Não queremos analisar apenas esses
vetos da MP dos Portos. O que a gente quer sinalizar é o seguinte: quando você
negocia uma medida provisória, a votação se dá por acordo. E o governo não pode
fazer um acordo aqui para vetar dias depois o que ficou combinado. A gente tem
que acabar com essa prática. Não dá para fingir que aceita, votar, e depois
vetar. Fica um poder imperial.”
No processo legislativo, recordou Eduardo Cunha, a
última palavra cabe ao Congresso, não ao Planalto. “O que a gente quer é que
esse poder do Congresso de apreciar os vetos seja exercido. Mesmo que o governo
acabe ganhando todas, a gente tem que apreciar os vetos.” Supondo-se que o
deputado fala mesmo em nome de sua bancada, Dilma tão cedo não terá vida boa na
Câmara.
Fonte: Blog do Josias de Souza

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