Em pronunciamento na TV, presidente condenou
violência nos protestos. Segundo ela, dinheiro aplicado na Copa é financiamento
e será devolvido
A presidente Dilma Rousseff anunciou nesta
sexta-feira (21), durante pronunciamento em cadeia nacional de
rádio e TV, que vai elaborar um Plano Nacional de Mobilidade Urbana que
privilegie o transporte público. Ela também disse que receberá "líderes
das manifestações pacíficas" e que conversará com governadores e prefeitos
das principais cidades para elaborar um pacto para a melhoria dos serviços
públicos.
O pronunciamento é uma resposta à série de
manifestações desta semana em mais de 140 cidades do país. Dilma passou o dia
discutindo com ministros e assessores a conveniência de fazer o pronunciamento,
gravado no final da tarde (saiba como foi a repercussão no meio político).
“Vou convidar os governadores e os prefeitos das
principais cidades do país para um grande pacto em torno da melhoria dos
serviços públicos. O foco será: primeiro, a elaboração do Plano Nacional de
Mobilidade Urbana, que privilegie o transporte coletivo; segundo, a destinação
de 100% dos recursos do petróleo para a educação; terceiro, trazer de imediato
milhares de médicos do exterior para ampliar o atendimento do SUS".
A presidente afirmou que se reunirá com as
lideranças das manifestações e com representantes de movimentos sociais.
"Anuncio que vou receber os líderes das
manifestações pacíficas, os representantes das organizações de jovens, das
entidades sindicais, dos movimentos de trabalhadores, das associações
populares. Precisamos de suas contribuições, reflexões e experiências. De sua
energia e criatividade, de sua aposta no futuro e de sua capacidade de
questionar erros do passado e do presente."
VIOLÊNCIA - No pronunciamento, a presidente condenou o vandalismo e as
depredações registradas em várias das manifestações e criticou a "minoria
violenta e autoritária" que danificou prédios públicos.
"O governo e a sociedade não podem aceitar que
uma minoria violenta e autoritária destrua o patrimônio público e privado,
ataque templos, incendeie carros, apedreje ônibus e tente levar o caos aos
nossos principais centros urbanos", afirmou Dilma.
Segundo ela, essa violência "envergonha o Brasil", é resultado da ação de uma "pequena minoria" e não pode "manchar um movimento pacífico e democrático".
Segundo ela, essa violência "envergonha o Brasil", é resultado da ação de uma "pequena minoria" e não pode "manchar um movimento pacífico e democrático".
"Todas as instituições e órgãos de segurança
pública devem coibir, dentro dos limites da lei, toda forma de violência e
vandalismo", determinou. "Com equilíbrio e serenidade, porém, com
firmeza, vamos continuar garantindo o direito e a liberdade de todos."
A presidente reiterou que o governo está ouvindo as
"vozes" das ruas, mas
não vai transigir com a violencia. "Asseguro a vocês: vamos manter a
ordem".
"Eu quero repetir que o meu governo está
ouvindo as vozes democráticas que pedem mudança. Eu quero dizer a vocês que
foram, pacificamente, às ruas: eu estou ouvindo vocês! E não vou transigir com
a violência e a arruaça."
CORRUPÇÃO - Sobre corrupção, um dos temas mais frequentes nos cartazes de
manifestantes nos protestos, a presidente afirmou que o país necessita de
"formas mais eficazes" para combater o problema.
"A mensagem direta das ruas é pacífica e
democrática. Ela reivindica um combate sistemático à corrupção e ao desvio de
recursos públicos. Todos me conhecem. Disso eu não abro mão", declarou.
Ela disse que Lei de Acesso à Informação, que
obriga governos e órgãos públicos a fornecer informações solicitadas pelos
cidadãos, deve ser expandida.
"A Lei de Acesso à Informação, sancionada no
meu governo, deve ser ampliada para todos os poderes da República e instâncias
federativas. Ela é um poderoso instrumento do cidadão para fiscalizar o uso
correto do dinheiro público. Aliás, a melhor forma de
combater a corrupção é com transparência e rigor.
COPA DO MUNDO - A presidente justificou os gastos com a Copa do Mundo, um dos
principais motivos de protesto dos manifestantes, que reivindicavam a aplicação
em saúde e educação do dinheiro gasto com a construção de estádios.
"Em relação à Copa, quero esclarecer que o
dinheiro do governo federal, gasto com arenas, é fruto de financiamento que
será devidamente pago pelas empresas e governo que estão explorando estes
estádios. Jamais permitiria que esses recursos saíssem do orçamento público
federal, prejudicando setores prioritários como a saúde e a educação",
afirmou.
REFORMA POLÍTICA - A presidente classificou de "equívoco" a palavra de ordem
dos manifestantes contra a presença de representantes de partidos políticos nas
manifestações: "Sem partido". Nesta sexta, o ministro Gilberto
Carvalho (Secretaria Geral da Presidência) já havia afirmado que "sem partido, no fundo, é ditadura".
"Quero contribuir para a construção de uma
ampla e profunda reforma política, que amplie a participação popular. É um
equívoco achar que qualquer país possa prescindir de partidos e, sobretudo, do
voto popular, base de qualquer processo democrático. Temos de fazer um esforço
para que o cidadão tenha mecanismos de controle mais abrangentes sobre os seus
representantes", disse.
Segundo ela, "é a cidadania, e não o poder
econômico, quem deve ser ouvido em primeiro lugar".
"Precisamos oxigenar o nosso sistema político.
Encontrar mecanismos que tornem nossas instituições mais transparentes, mais
resistentes aos malfeitos e acima de tudo mais permeáveis à influência da
sociedade", afirmou.
Leia abaixo a íntegra do depoimento da presidente.
Minhas amigas e meus amigos,
Todos nós, brasileiras e
brasileiros, estamos acompanhando, com muita atenção, as manifestações que
ocorrem no país. Elas mostram a força de nossa democracia e o desejo da
juventude de fazer o Brasil avançar.
Se aproveitarmos bem o impulso
desta nova energia política, poderemos fazer, melhor e mais rápido, muita coisa
que o Brasil ainda não conseguiu realizar por causa de limitações políticas e
econômicas. Mas, se deixarmos que a violência nos faça perder o rumo, estaremos
não apenas desperdiçando uma grande oportunidade histórica, como também
correndo o risco de colocar muita coisa a perder.
Como presidenta, eu tenho a
obrigação tanto de ouvir a voz das ruas, como dialogar com todos os segmentos,
mas tudo dentro dos primados da lei e da ordem, indispensáveis para a
democracia.
O Brasil lutou muito para se
tornar um país democrático. E também está lutando muito para se tornar um país
mais justo. Não foi fácil chegar onde chegamos, como também não é fácil chegar
onde desejam muitos dos que foram às ruas. Só tornaremos isso realidade se
fortalecermos a democracia – o poder cidadão e os poderes da República.
Os manifestantes têm o direito e
a liberdade de questionar e criticar tudo, de propor e exigir mudanças, de
lutar por mais qualidade de vida, de defender com paixão suas ideias e
propostas, mas precisam fazer isso de forma pacífica e ordeira.
O governo e a sociedade não podem
aceitar que uma minoria violenta e autoritária destrua o patrimônio público e
privado, ataque templos, incendeie carros, apedreje ônibus e tente levar o caos
aos nossos principais centros urbanos. Essa violência, promovida por uma
pequena minoria, não pode manchar um movimento pacífico e democrático. Não
podemos conviver com essa violência que envergonha o Brasil. Todas as
instituições e os órgãos da Segurança Pública têm o dever de coibir, dentro dos
limites da lei, toda forma de violência e vandalismo.
Com equilíbrio e serenidade,
porém, com firmeza, vamos continuar garantindo o direito e a liberdade de
todos. Asseguro a vocês: vamos manter a ordem.
Brasileiras e brasileiros,
As manifestações dessa semana trouxeram importantes
lições: as tarifas baixaram e as pautas dos manifestantes ganharam prioridade
nacional. Temos que aproveitar o vigor destas manifestações para produzir mais
mudanças, mudanças que beneficiem o conjunto da população brasileira.
A minha geração lutou muito para
que a voz das ruas fosse ouvida. Muitos foram perseguidos, torturados e
morreram por isso. A voz das ruas precisa ser ouvida e respeitada, e ela não
pode ser confundida com o barulho e a truculência de alguns arruaceiros.
Sou a presidenta de todos os brasileiros, dos que se manifestam e dos que não se manifestam. A mensagem direta das ruas é pacífica e democrática.
Ela reivindica um combate
sistemático à corrupção e ao desvio de recursos públicos. Todos me conhecem.
Disso eu não abro mão.
Esta mensagem exige serviços
públicos de mais qualidade. Ela quer escolas de qualidade; ela quer atendimento
de saúde de qualidade; ela quer um transporte público melhor e a preço justo;
ela quer mais segurança. Ela quer mais. E para dar mais, as instituições e os
governos devem mudar.
Irei conversar, nos próximos
dias, com os chefes dos outros poderes para somarmos esforços. Vou convidar os
governadores e os prefeitos das principais cidades do país para um grande pacto
em torno da melhoria dos serviços públicos.
O foco será: primeiro, a
elaboração do Plano Nacional de Mobilidade Urbana, que privilegie o transporte
coletivo. Segundo, a destinação de cem por cento dos recursos do petróleo para
a educação. Terceiro, trazer de imediato milhares de médicos do exterior para
ampliar o atendimento do Sistema Único de Saúde, o SUS.
Anuncio que vou receber os
líderes das manifestações pacíficas, os representantes das organizações de
jovens, das entidades sindicais, dos movimentos de trabalhadores, das
associações populares. Precisamos de suas contribuições, reflexões e
experiências, de sua energia e criatividade, de sua aposta no futuro e de sua
capacidade de questionar erros do passado e do presente.
Brasileiras e brasileiros,
Precisamos oxigenar o nosso sistema político.
Encontrar mecanismos que tornem nossas instituições mais transparentes, mais
resistentes aos malfeitos e, acima de tudo, mais permeáveis à influência da
sociedade. É a cidadania, e não o poder econômico, quem deve ser ouvido em
primeiro lugar.
Quero contribuir para a
construção de uma ampla e profunda reforma política, que amplie a participação
popular. É um equívoco achar que qualquer país possa prescindir de partidos e,
sobretudo, do voto popular, base de qualquer processo democrático. Temos de
fazer um esforço para que o cidadão tenha mecanismos de controle mais
abrangentes sobre os seus representantes.
Precisamos muito, mas muito
mesmo, de formas mais eficazes de combate à corrupção. A Lei de Acesso à
Informação, sancionada no meu governo, deve ser ampliada para todos os poderes
da República e instâncias federativas. Ela é um poderoso instrumento do cidadão
para fiscalizar o uso correto do dinheiro público. Aliás, a melhor forma de
combater a corrupção é com transparência e rigor.
Em relação à Copa, quero
esclarecer que o dinheiro do governo federal, gasto com as arenas é fruto de
financiamento que será devidamente pago pelas empresas e os governos que estão
explorando estes estádios. Jamais permitiria que esses recursos saíssem do
orçamento público federal, prejudicando setores prioritários como a Saúde e a
Educação.
Na realidade, nós ampliamos
bastante os gastos com Saúde e Educação, e vamos ampliar cada vez mais. Confio
que o Congresso Nacional aprovará o projeto que apresentei para que todos os
royalties do petróleo sejam gastos exclusivamente com a Educação.
Não posso deixar de mencionar um
tema muito importante, que tem a ver com a nossa alma e o nosso jeito de ser. O
Brasil, único país que participou de todas as Copas, cinco vezes campeão
mundial, sempre foi muito bem recebido em toda parte. Precisamos dar aos nossos
povos irmãos a mesma acolhida generosa que recebemos deles. Respeito, carinho e
alegria, é assim que devemos tratar os nossos hóspedes. O futebol e o esporte
são símbolos de paz e convivência pacífica entre os povos. O Brasil merece e
vai fazer uma grande Copa.
Minhas amigas e meus amigos,
Eu quero repetir que o meu governo está ouvindo as
vozes democráticas que pedem mudança. Eu quero dizer a vocês que foram
pacificamente às ruas: eu estou ouvindo vocês! E não vou transigir com a
violência e a arruaça.
Será sempre em paz, com liberdade
e democracia que vamos continuar construindo juntos este nosso grande país.
Boa noite!
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