Estudo
do Instituto Pereira Passos mostra que pouco menos da metade (48,9%) das
pessoas com idades entre 15 e 24 anos compunha a população economicamente ativa
do município, ou seja, estava trabalhando ou procurando emprego
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Sem creche. Kelly Cristina Estrela, 24, mora com o companheiro e dois filhos no alto do morro Pavão-Pavãozinho. Fotos Custodio Coimbra Custódio Coimbra / O Globo |
Kelly Cristina Estrela, de 24 anos, deixou a escola há
nove, ao descobrir que estava grávida do primeiro dos quatro filhos. História
semelhante à de Evelyn Marcelli Lima Marcelino, que em 2010, logo após saber
que estava esperando filho, abandonou o oitavo ano do ensino fundamental aos 15
anos. Já Glauciane Rodrigues Hilário, de 22, interrompeu os estudos há uns três
ou quatro anos, quando concluiu a oitava série, e parou de trabalhar há um ano,
pouco antes de engravidar de Maria Eduarda, hoje com 3 meses. As três fazem
parte de um um grupo de cariocas que cresceu significativamente entre os censos
realizados pelo IBGE em 2000 e 2010. São jovens com idade entre 15 e 24 anos
que nem estudam, nem trabalham e nem procuram emprego. No último levantamento demográfico,
os “nem-nem”, como são chamados nos círculos acadêmicos, eram pouco mais de 157
mil dos 972.856 cariocas nessa faixa etária (16%). Em 2000, eram 124,6 mil, ou
12,3% dos cariocas nessa idade.
No terceiro dia da série Retratos Cariocas, O GLOBO destaca essa e outras conclusões de um estudo do Instituto Pereira Passos (IPP) sobre mercado de trabalho, juventude e educação no Rio de Janeiro. Os painéis, que serão divulgados na íntegra no Armazém de Dados, site da instituição, mostram que pouco menos da metade (48,9%) dos jovens com idades entre 15 e 24 anos compunha a população economicamente ativa do município, ou seja, estava trabalhando ou procurando emprego. Mostra ainda que o desemprego jovem na cidade registrava em 2010 uma taxa de 17,5%, bem menos que os 29% de 2000. E, que entre as Regiões de Planejamento da cidade, a que apresentou um maior índice no Censo de 2010 foi a de Santa Cruz, com 23,3% de desempregados entre 15 e 24 anos. Em seguida ficaram Campo Grande, com 21,5%; e Inhaúma, com 19,6%.
No terceiro dia da série Retratos Cariocas, O GLOBO destaca essa e outras conclusões de um estudo do Instituto Pereira Passos (IPP) sobre mercado de trabalho, juventude e educação no Rio de Janeiro. Os painéis, que serão divulgados na íntegra no Armazém de Dados, site da instituição, mostram que pouco menos da metade (48,9%) dos jovens com idades entre 15 e 24 anos compunha a população economicamente ativa do município, ou seja, estava trabalhando ou procurando emprego. Mostra ainda que o desemprego jovem na cidade registrava em 2010 uma taxa de 17,5%, bem menos que os 29% de 2000. E, que entre as Regiões de Planejamento da cidade, a que apresentou um maior índice no Censo de 2010 foi a de Santa Cruz, com 23,3% de desempregados entre 15 e 24 anos. Em seguida ficaram Campo Grande, com 21,5%; e Inhaúma, com 19,6%.
Marcelli mora com os pais e uma irmã no Bairro
Canaã, em Santa Cruz. O pai de seu filho viveu com ela na casa de sua família,
mas há alguns meses voltou para a residência dos pais dele, em Campo Grande. Em
janeiro, ela completou 18 anos e, estimulada por uma amiga, aceitou um emprego
do qual tinha poucas informações. Foram, no entanto, apenas cinco dias de
trabalho:
— Não dão oportunidades para as pessoas. Olho às
vezes na internet. Exigem ensino fundamental completo e experiência. Como vou
ter experiência se nunca trabalhei? Estou desestimulada.
Kelly, que mora com o companheiro numa casa de
apenas um cômodo no alto do Morro do Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, tem
argumento semelhante e ainda acrescenta:
— Meu marido trabalha como entregador de jornais e
passa os dias fora. Se for trabalhar, além de ganhar pouco, não tenho com quem
deixar meus dois filhos pequenos.
Glauciane, por sua vez, diz que precisa encontrar
creche integral para sua filha para voltar a trabalhar.
— Era muito cansativo trabalhar e estudar. Mas me
arrependo de ter parado de estudar. Quando minha filha ficar um pouco maior,
pretendo voltar para a escola e até fazer faculdade.
Para especialistas, no entanto, as causas do
aumento do grupo dos “nem-nem” extrapolam as explicações usuais, associadas à
gravidez ou à falta de motivação e de apoio para procurar emprego. Doutora em
educação, Andrea Ramal diz que a evasão no ensino médio é um dos fatores que
agravam a situação.
— O Censo Escolar de 2011 (Inep) mostrou que dois
milhões de jovens brasileiros de 15 a 17 anos estão fora do ensino médio. Os
jovens abandonam os estudos por muitos fatores: falta de estímulo; necessidade
de obter uma renda; ambiente familiar com baixa escolaridade e com poucas
oportunidades de ampliação do repertório cultural; aspectos comportamentais,
como baixa motivação para o autodesenvolvimento e falta de um projeto de vida;
e reprovação. No caso de muitas meninas, a gravidez precoce também é um fator
de abandono escolar. Como resultado, no Brasil constatamos o crescimento dessa
geração “nem-nem”. Por sua baixa qualificação, esses jovens acabam não se
colocando bem no mercado de trabalho e, com o passar dos anos, têm mais
dificuldade para permanecer. Esse quadro não traz boas perspectivas para o
Brasil e tampouco para o Rio. Essa geração de jovens certamente vai fazer falta
no horizonte de crescimento sustentável desejado para o município.
Índices de desemprego diminuem
Apesar do aumento do percentual de jovens fora do
mercado de trabalho, os índices de desemprego medidos pelo Censo para o
município do Rio de Janeiro tiveram uma melhora significativa entre os anos de
2000 e 2010. A taxa, que era de 15,9%, caiu para 7,3%. No Brasil, na década,
foi de 15,3% para 7,6%. Para as mulheres habitantes do Rio, a queda foi de
19,5% para 9,3%. Além disso, a taxa de participação das mulheres também
aumentou, ou seja, entre as integrantes do grupo com idade ativa para
trabalhar, há mais delas atuando no mercado.
No Rio, os números do IBGE apontam que o maior
percentual de trabalhadores com carteira assinada se encontra na Região de
Planejamento de Ramos (62,8%), seguida de Inhaúma (60,4%) e Centro (59,5%).
Mostram ainda que o Rio é uma cidade onde as pessoas estão empregadas sobretudo
no setor de serviços. São 54% do total de 2,9 milhões de trabalhadores. O
índice é um pouco superior, por exemplo, aos de São Paulo (52,5%) e Belo
Horizonte (51,2%).
Os percentuais de ocupados no comércio também são
semelhantes nas capitais do Sudeste, todos em torno de 17% do total dos
empregados. Porém, no caso da indústria de transformação, a proporção de
empregos cariocas é bem menor — de 6,3%, enquanto em Belo Horizonte e São Paulo
o percentual sobe para 9,1% e 11,3%, respectivamente.
Os números mostram também que o Rio tem quase dois
milhões de estudantes frequentando desde creches até cursos de doutorado,
incluindo aí os programas de educação para jovens e adultos. Revelam ainda que
aumentou bastante a porcentagem de crianças e jovens que frequentam a escola
desde 2000. Naquele ano, apenas 18,1% das crianças com idade entre 0 e 3 anos
estavam matriculadas numa creche. Em 2010, o índice saltou para 33,9%. No caso
das crianças entre 4 e 5 anos que frequentam a educação infantil, a taxa
melhorou de 70% para 88%. O estudo, no entanto, mostra que 23,5% dos alunos do
ensino fundamental têm dois anos ou mais de atraso escolar.
Para Andrea Ramal, várias razões ajudam a explicar
esse quadro. E a forma de mudar esse cenário é superando os dois principais
fatores: o pedagógico, tornando a escola mais interessante, motivadora e
eficaz; e o social, com políticas que tenham impacto na redução da pobreza e
das desigualdades.
Fonte: Jornal O Globo
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