Líder sul-africano morreu ao lado de Graça Machel,
considerado o grande amor de sua vida
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As mulheres do líder: Evelyn, Winnie e Graça, seu maior amor |
Um homem afável e de um carisma inquestionável. Numa
vida marcada pela luta social e política, três mulheres - bem diferentes entre
si - protagonizaram a parte pessoal da vida de Nelson Mandela. Do primeiro
casamento com uma fervorosa cristã ao amor tranquilo ao lado de Graça Machel,
passando pelo conturbado divórcio com a intempestiva Winnie, Mandela buscou em
suas mulheres apoio para a luta pela justiça racial na África do Sul. E, claro,
como todos os mortais, nem sempre encontrou o que desejava em sua companheira.
Evelyn Mase, uma apaixonada pela
causa da fé:
Nelson Mandela tinha assim como sua primeira
mulher, Evelyn Mase, um compromisso apaixonado por uma causa, mas não era a
mesma. Evelyn, que morreu aos 82 anos, em 2004, era Testemunha de Jeová e não
tinha interesse algum em política. Já ele era um jovem ativista no começo de
sua luta contra o regime segregacionista do apartheid.
Em sua autobiografia, "Longa Caminhada até a
Liberdade", Mandela explica as divergências entre o casal: "Quando eu
lhe dizia que estava servindo à nação, ela respondia que servir a Deus estava
acima disso. Um homem e uma mulher com visões tão diferentes sobre seus papéis
na vida não podem continuar juntos."
Evelyn conheceu o primeiro marido em Soweto. Seu
irmão, Sam, morava com um grande amigo e mentor de Mandela, Walter Sisulu. Foi
na casa do ativista, que os dois jovens se conheceram. Em 1944, Mandela e
Evelyn se casaram, mas as divergências entre os dois não tardaram a aparecer. A
morte da primeira filha do casal, Makaziwe, devastou Evelyn e, quando os dois
tiveram uma outra filha, ela decidiu se tornar Testemunha de Jeová. Além das
duas meninas, o casal ainda teve outros dois filhos.
Nessa época, as divergências entre os dois se
tornaram ainda mais frequentes. O embate entre política e religião era
constante na casa dos Mandela e surgia sempre como um obstáculo na criação dos
filhos. Em 1957, Evelyn deu um ultimato: era ela ou o Congresso Nacional
Africano (partido de Madiba). Não houve hesitação, e Evelyn abandonou o marido
após 13 anos de casamento. Pouco depois, o líder sul-africano conheceu sua
segunda mulher: a também ativista Winnie Madikizela.
Apesar de ser totalmente apolítica, a primeira
mulher de Mandela pagou um preço alto pelo casamento com o líder negro. O
regime do apartheid a proibiu de ter um passaporte para que pudesse acompanhar
seus filhos à Suazilândia, onde estudavam em escolas particulares.
Winnie
Mandela, de heroína do apartheid a radical polêmica:
Ela ainda é o segundo nome mais conhecido da África
do Sul, só atrás de seu ex-marido Nelson Mandela. Winnie Madikizela-Mandela
manteve a chama da luta contra o apartheid viva, mesmo quando o marido estava
atrás das grades, e se tornou uma das figuras políticas mais aclamadas de seu
país durante o regime segregacionista. Hoje, Winnie Mandela - conhecida como "Mama
África" e "Evita da África do Sul" - é sinônimo de polêmica.
Nascida na área rural de Transkei, ela era uma
jovem assistente social em Johannesburgo, quando conheceu Mandela em um ponto
de ônibus, dois anos antes de o CNA entrar para a ilegalidade. Os dois
rapidamente se apaixonaram, mas pouco tempo depois, em 1962, Mandela foi preso
e condenado à prisão perpétua. Durante os 27 anos em que ficou detido em Robben
Island, Winnie seguiu com a luta contra o apartheid, apesar de ter que cuidar
sozinha das duas filhas do casal e ser constante alvo de perseguições e
tortura.
Em 1990, o casal voltou a se reunir, quando Mandela
foi libertado. De mãos dadas, os dois deixaram a prisão, um momento
emocionante, transmitido no mundo todo. Mas um ano depois, com um discurso cada
vez mais radical, sua reputação sofreu um grande golpe. Winnie foi condenada
pelo sequestro de um menino de 14 anos, em 1988, morto por um membro do Mandela
United Football Club, uma espécie de associação de guarda-costas de Winnie.
Entre boatos sobre um caso com um advogado do CNA, seu casamento também foi por
água abaixo - os dois se separaram em 1992, mas só se divorciaram formalmente
três anos depois - e ela ainda foi condenada em mais de 40 casos de fraude e
outros 25 de roubo. Como deputada, foi criticada por faltar a muitas sessões do
Parlamento.
Em 1995, diante de uma corte de divórcio, um
Mandela triste confessou que se sentiu um "homem mais solitário"
durante o tempo que passou com Winnie após ser solto do que durante os 27 anos
em que esteve preso. Apesar de terem ficado 33 anos juntos, Winnie e Mandela só
conviveram lado a lado por cinco anos.
- Nem uma vez, desde que voltei da prisão, Winnie
entrou em nosso quarto quando eu estava acordado... Fui o homem mais solitário
no período em que fiquei com ela - disse Madiba na época.
Graça
Machel, o amor aos 80 anos:
Dois meses após se divorciar formalmente de Winnie
e já aos 78 anos, o amor voltou à vida de Nelson Mandela. Em 1995, o então
presidente da África do Sul assumiu o namoro com Graça Machel, viúva do
presidente moçambicano Samora Machel, morto em um acidente de avião em 1986, e
sua futura terceira mulher.
Os dois se conheceram em 1990, quando Mandela,
livre da prisão, foi eleito presidente do CNA e aceitou cuidar dos filhos de
Samora Machel. Mas o casamento entre os dois teria sido recebido com
resistência entre os familiares do casal e até por autoridades de Moçambique.
Os dois se casaram no dia do 80º aniversário de
Mandela, em 18 de junho de 1998. Em entrevista na época, Madiba confessou que
nunca pensou que seria possível "se apaixonar e se sentir daquela
maneira" de novo. Após deixar a Presidência, em 1999, Mandela voltou para
o pequeno vilarejo de Qunu, onde viveu até seus últimos dias ao lado de Graça,
conhecida ativista pelos direitos da mulher e da criança.
Juntos, Mandela e Graça fundaram - ao lado de
outros líderes mundiais - o grupo The Elders, uma iniciativa pela paz mundial e
os direitos humanos. Para o autor do livro "Invictus - O Triunfo de Nelson
Mandela", inspiração para o filme homônimo de Clint Eastwood, John Carlin,
Graça é o grande amor da vida de Madiba. Em entrevista na época do lançamento
do longa, em 2010, Carlin disse:
- Das três mulheres de Mandela é a que mais se
adequa a ele, pela suas qualidades como pessoa, mas também pelas suas
qualidades políticas. É uma pena que não tenham se conhecido antes.
Fonte: Jornal O Globo
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