quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Mandela, uma vida ao lado de três mulheres muito diferentes

Líder sul-africano morreu ao lado de Graça Machel, considerado o grande amor de sua vida

As mulheres do líder: Evelyn, Winnie e Graça, seu maior amor
Um homem afável e de um carisma inquestionável. Numa vida marcada pela luta social e política, três mulheres - bem diferentes entre si - protagonizaram a parte pessoal da vida de Nelson Mandela. Do primeiro casamento com uma fervorosa cristã ao amor tranquilo ao lado de Graça Machel, passando pelo conturbado divórcio com a intempestiva Winnie, Mandela buscou em suas mulheres apoio para a luta pela justiça racial na África do Sul. E, claro, como todos os mortais, nem sempre encontrou o que desejava em sua companheira.

Evelyn Mase, uma apaixonada pela causa da fé:
Nelson Mandela tinha assim como sua primeira mulher, Evelyn Mase, um compromisso apaixonado por uma causa, mas não era a mesma. Evelyn, que morreu aos 82 anos, em 2004, era Testemunha de Jeová e não tinha interesse algum em política. Já ele era um jovem ativista no começo de sua luta contra o regime segregacionista do apartheid.
Em sua autobiografia, "Longa Caminhada até a Liberdade", Mandela explica as divergências entre o casal: "Quando eu lhe dizia que estava servindo à nação, ela respondia que servir a Deus estava acima disso. Um homem e uma mulher com visões tão diferentes sobre seus papéis na vida não podem continuar juntos."
Evelyn conheceu o primeiro marido em Soweto. Seu irmão, Sam, morava com um grande amigo e mentor de Mandela, Walter Sisulu. Foi na casa do ativista, que os dois jovens se conheceram. Em 1944, Mandela e Evelyn se casaram, mas as divergências entre os dois não tardaram a aparecer. A morte da primeira filha do casal, Makaziwe, devastou Evelyn e, quando os dois tiveram uma outra filha, ela decidiu se tornar Testemunha de Jeová. Além das duas meninas, o casal ainda teve outros dois filhos.

Nessa época, as divergências entre os dois se tornaram ainda mais frequentes. O embate entre política e religião era constante na casa dos Mandela e surgia sempre como um obstáculo na criação dos filhos. Em 1957, Evelyn deu um ultimato: era ela ou o Congresso Nacional Africano (partido de Madiba). Não houve hesitação, e Evelyn abandonou o marido após 13 anos de casamento. Pouco depois, o líder sul-africano conheceu sua segunda mulher: a também ativista Winnie Madikizela.
Apesar de ser totalmente apolítica, a primeira mulher de Mandela pagou um preço alto pelo casamento com o líder negro. O regime do apartheid a proibiu de ter um passaporte para que pudesse acompanhar seus filhos à Suazilândia, onde estudavam em escolas particulares.

Winnie Mandela, de heroína do apartheid a radical polêmica:
Ela ainda é o segundo nome mais conhecido da África do Sul, só atrás de seu ex-marido Nelson Mandela. Winnie Madikizela-Mandela manteve a chama da luta contra o apartheid viva, mesmo quando o marido estava atrás das grades, e se tornou uma das figuras políticas mais aclamadas de seu país durante o regime segregacionista. Hoje, Winnie Mandela - conhecida como "Mama África" e "Evita da África do Sul" - é sinônimo de polêmica.
Nascida na área rural de Transkei, ela era uma jovem assistente social em Johannesburgo, quando conheceu Mandela em um ponto de ônibus, dois anos antes de o CNA entrar para a ilegalidade. Os dois rapidamente se apaixonaram, mas pouco tempo depois, em 1962, Mandela foi preso e condenado à prisão perpétua. Durante os 27 anos em que ficou detido em Robben Island, Winnie seguiu com a luta contra o apartheid, apesar de ter que cuidar sozinha das duas filhas do casal e ser constante alvo de perseguições e tortura.

Em 1990, o casal voltou a se reunir, quando Mandela foi libertado. De mãos dadas, os dois deixaram a prisão, um momento emocionante, transmitido no mundo todo. Mas um ano depois, com um discurso cada vez mais radical, sua reputação sofreu um grande golpe. Winnie foi condenada pelo sequestro de um menino de 14 anos, em 1988, morto por um membro do Mandela United Football Club, uma espécie de associação de guarda-costas de Winnie. Entre boatos sobre um caso com um advogado do CNA, seu casamento também foi por água abaixo - os dois se separaram em 1992, mas só se divorciaram formalmente três anos depois - e ela ainda foi condenada em mais de 40 casos de fraude e outros 25 de roubo. Como deputada, foi criticada por faltar a muitas sessões do Parlamento.
Em 1995, diante de uma corte de divórcio, um Mandela triste confessou que se sentiu um "homem mais solitário" durante o tempo que passou com Winnie após ser solto do que durante os 27 anos em que esteve preso. Apesar de terem ficado 33 anos juntos, Winnie e Mandela só conviveram lado a lado por cinco anos.
- Nem uma vez, desde que voltei da prisão, Winnie entrou em nosso quarto quando eu estava acordado... Fui o homem mais solitário no período em que fiquei com ela - disse Madiba na época.

Graça Machel, o amor aos 80 anos:
Dois meses após se divorciar formalmente de Winnie e já aos 78 anos, o amor voltou à vida de Nelson Mandela. Em 1995, o então presidente da África do Sul assumiu o namoro com Graça Machel, viúva do presidente moçambicano Samora Machel, morto em um acidente de avião em 1986, e sua futura terceira mulher.
Os dois se conheceram em 1990, quando Mandela, livre da prisão, foi eleito presidente do CNA e aceitou cuidar dos filhos de Samora Machel. Mas o casamento entre os dois teria sido recebido com resistência entre os familiares do casal e até por autoridades de Moçambique.
Os dois se casaram no dia do 80º aniversário de Mandela, em 18 de junho de 1998. Em entrevista na época, Madiba confessou que nunca pensou que seria possível "se apaixonar e se sentir daquela maneira" de novo. Após deixar a Presidência, em 1999, Mandela voltou para o pequeno vilarejo de Qunu, onde viveu até seus últimos dias ao lado de Graça, conhecida ativista pelos direitos da mulher e da criança.

Juntos, Mandela e Graça fundaram - ao lado de outros líderes mundiais - o grupo The Elders, uma iniciativa pela paz mundial e os direitos humanos. Para o autor do livro "Invictus - O Triunfo de Nelson Mandela", inspiração para o filme homônimo de Clint Eastwood, John Carlin, Graça é o grande amor da vida de Madiba. Em entrevista na época do lançamento do longa, em 2010, Carlin disse:
- Das três mulheres de Mandela é a que mais se adequa a ele, pela suas qualidades como pessoa, mas também pelas suas qualidades políticas. É uma pena que não tenham se conhecido antes.

Fonte: Jornal O Globo


Nenhum comentário:

Postar um comentário