Renúncia foi apresentada antes de decisão sobre processo de cassação. Condenado no mensalão, Genoino está em prisão domiciliar provisória
O deputado federal licenciado José Genoino, preso devido a condenação no julgamento do mensalão,
apresentou nesta terça-feira (3) à Mesa Diretora da Câmara carta de renúncia ao
mandato. Segundo o presidente da Casa, deputado Henrique Alves (PMDB-RN), o
documento será lido em plenário na tarde desta terça.
De acordo com Alves, a
renúncia será publicada nesta quarta, com a convocação do suplente Renato
Simões (PT-SP) para assumir a vaga em definitivo – atualmente Simões exerce o
mandato temporariamente devido à licença de Genoino.
A carta de renúncia foi
apresentada pelo vice-presidente da Câmara, deputado André Vargas (PT-PR),
durante reunião da Mesa Diretora da Câmara que discutia a abertura de processo
de cassação do parlamentar.
"Antes da aferição dos
votos, o deputado André Vargas apresentou um documento de Genoino de renúncia
ao mandato. Então, o processo de cassação nem chegará à Comissão de
Constituição e Justiça", afirmou Henrique Alves.
O primeiro-secretário da
Câmara, deputado Simão Sessim (PP-RJ), relatou que a carta de renúncia ao
mandato foi apresentada quando a maioria dos sete integrantes da Mesa Diretora
já tinha votado pela instauração do processo de cassação.
"Estava 4 a 2 pela
abertura do processo, quando André Vargas apresentou a carta de renúncia",
disse.
Genoino pediu licença médica
à Câmara dos Deputados para se recuperar de uma cirurgia cardíaca e, depois,
entrou com pedido de aposentadoria por invalidez.
O deputado foi condenado a 6
anos e 11 meses de prisão pelos crimes de corrupção ativa (4 anos e 8 meses) e
formação de quadrilha (2 anos e 3 meses). Ele começou a cumprir a pena somente
por corrupção ativa. Com relação à condenação por formação de quadrilha, entrou
com recurso que será julgado no ano que vem pelo Supremo Tribunal Federal.
CARTA DE
RENÚNCIA - Na carta de renúncia (veja a
reprodução da carta ao final desta reportagem), Genoino diz que é
inocente e que dedicou 45 anos à “defesa intransigente do Brasil, da democracia
e do povo brasileiro”.
“Considerando que sou
inocente, considerando também que a razão de ser da minha vida é a luta por
sonhos e causas ao longo dos últimos 45 anos, reitero que entre a humilhação e
a ilegalidade prefiro o risco da luta”, afirmou.
O petista diz no documento
que “não praticou nenhum crime” e afirma que sempre lutou por “ideais” e nunca
acumulou “patrimônio nem riquezas”. Ele encerra a carta agradecendo a
“confiança” depositada nele pelo “povo do Estado de São Paulo”.
APOSENTADORIA - O diretor-geral da Câmara, Sérgio Sampaio,
afirmou que divulgará uma nota com a posição da Casa a respeito do processo de
aposentadoria de Genoino, em tramitação. A Câmara deverá decidir se, com o
pedido de renúncia, ainda haveria possibilidade de o petista ser aposentado por
invalidez.
Sampaio já afirmou
anteriormente considerar que o deputado poderia ter direito a aposentadoria
ainda que perdesse o mandato. Para ele, se a junta médica decidisse em 90 dias
que Genoino não está apto a trabalhar, ele poderia ser aposentado e receber
salário integral de deputado, já que o pedido foi anterior à cassação.
Apesar da renúncia ao
mandato, Genoino receberá salário de R$ 20 mil, porque ele já possui uma
aposentadoria proporcional por tempo de serviço pelo Legislativo. Quando
retornou à Câmara, no início do ano, o petista solicitou a suspensão da
aposentadoria para ter condições de atuar como deputado e passou a receber R$
26,7 mil, salário atual dos parlamentares.
CONDENAÇÃO
E SAÚDE - Condenado no julgamento do
mensalão, o deputado, que tem problemas cardíacos e fez uma cirurgia no coração
em julho, foi preso no último dia 15 e levado para o Complexo Penitenciário da
Papuda, em Brasília, para cumprir pena em regime semiaberto. Dias depois ele
passou mal na prisão e foi transferido para um hospital, do qual teve alta dia
23 de novembro, e está em prisão domiciliar provisoriamente.
Laudo feito por junta médica
da Câmara diz que o petista não tem doença que justifique aposentadoria por
invalidez. Eles opinaram por mais 90 dias de licença para que Genoino tenha
condições de recuperação total da doença cardíaca. Depois deste período, ele
passaria por nova perícia para verificar se está apto a trabalhar.
PRISÃO DOMICILIAR - O ex-presidente do PT está em prisão domiciliar
provisória devido ao seu estado de saúde e deve ter o pedido de prisão
domiciliar definitiva avaliado nos próximos dias pelo presidente do Supremo
Tribunal Federal (STF) e relator do processo do mensalão, Joaquim Barbosa.
O procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, enviou parecer ao STF na segunda (2) no qual opina
pela concessão de prisão domiciliar por mais 90 dias para Genoino. Ao fim do
prazo, segundo o procurador, "deverá ser reavaliada" a situação de
saúde do parlamentar.
Para Janot, Genoino
"apresenta graves problemas (delicada condição) de saúde e corre risco se
continuar a cumprir pena no presídio". "Sua permanência em cárcere,
por pouco mais de dez dias, caracterizou-se por diversos episódios de pressão
alta, alteração na coagulação e outros sintomas. [...] O fato de o requerente
não ter sido considerado portador de cardiopatia grave, por si só, não afasta a
aplicação excepcional do artigo 117 da Lei de Execução Penal, que autoriza a
prisão domiciliar", afirma Janot no documento.
O parecer foi feito a pedido
do ministro Joaquim Barbosa, que decidiu enviar laudo médico feito por
cardiologistas ligados à Universidade de Brasília (UnB), à Procuradoria e à
defesa do deputado antes de decidir sobre o pedido de prisão domiciliar
definitiva. O laudo afirmou que a cardiopatia de Genoino "não se caracteriza
como grave" e que não há necessidade de tratamento domiciliar permanente.
Em razão do estado de saúde
de Genoino, Barbosa concedeu prisão domiciliar temporária até que saísse o
resultado da avaliação da junta médica da UnB, nomeada por ordem do próprio ministro.
A avaliação é um dos elementos que Barbosa vai levar em conta para decidir se
autorizará o cumprimento da pena em prisão domiciliar. Agora que a Procuradoria
enviou parecer, ele poderá tomar uma decisão.
DECISÃO 'COMPATÍVEL' COM ESTADO SAÚDE - O ministro da Educação, Aloizio Mercadante (PT), disse que a renúncia de Genoino é “totalmente compatível” com seu estado delicado de saúde. Ele falou sobre o colega de partido no Senado Federal, após reunião com a bancada do PMDB.
“Ele teve um processo muito
grave, fissura da aorta em três pontos, uma cardiopatia muito grave. Ele tem
ainda descontrole de pressão, de coagulação do sangue, dificuldades evidentes
de retomar qualquer atividade nessas condições de saúde. Acho que ele está
tomando uma decisão que é totalmente compatível”, declarou o ministro.
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Carta de renúncia do deputado José Genoino |
Fonte: G1
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