Justina Fernandes era filha de
João Batista da Mata Fernandes e de Alice Adélia Garcia, que uniram-se em
matrimônio em 30 de julho de 1901 e tiveram, além de Justina Fernandes, outros
14 filhos, sendo a prole formada por cinco homens e dez mulheres. Era neta do
tabelião João Inácio Garcia, sobrinha do mandatário arariense, Antonio Anísio
Garcia, grande líder político da nossa terra no século XX. Portanto, a nossa
insigne gestora tinha, de berço, o dom de “viver para a política, e não da
política” (WEBER, 2004, p. 68).
Ela “foi batizada em Arari no
dia 16 de agosto de 1909, com cinco meses de idade, sendo seus padrinhos o
Capitão Pedro Leandro Fernandes e Inês da Graça Fernandes Garcia” (ERICEIRA,
2012, p. 181). Casou-se com o seu primo Pedro Garcia Rodrigues. Tiveram um
casal de filhos. A menina faleceu com alguns meses de idade, o menino faleceu
já adolescente, com 15 anos de idade.
Justina Fernandes morava e
tinha comércio na Rua João Inácio Garcia, local em que atualmente fica o
memorial Padre Brandt. Descendente de família e casada com criador de gado,
logicamente, Bembém também era pecuarista. Ficou viúva em 1942, aos 33 anos de
idade. Com o falecimento do seu esposo foi morar em São Luís. Depois do seu
mandato de prefeita foi morar no Rio de Janeiro, onde faleceu vitimada por um
câncer no estômago, no romper da aurora, do dia 8 de janeiro de 1959. Se
sepultamento aconteceu no cemitério do Gavião, em São Luís.
Durante a vigência do chamado
Estado Novo no Brasil, que perdurou até o final do ano de 1947, a alternância
de prefeito em Arari era constante. Desse modo, pairava uma instabilidade
política no Município. Foi então que em 1950, o Padre Clodomir Brandt e Silva
teve e feliz ideia de lançar a candidatura de Justina Fernandes Rodrigues, que
na ocasião residia em são Luís, à prefeitura de Arari, pelo Partido Social
Progressista - PSP. O seu companheiro de chapa foi o Sr. Antonio de Jesus dos
Santos (Tonico Santos), que é pai do cantor Zeca Baleiro, nosso companheiro
nessa Confraria, e juntos venceram a eleição contra o Cel. Cipriano Ribeiro dos
Santos. Após 27 anos de domínio político exercido pelo Sr. Antonio Anísio
Garcia, a oposição, finalmente, triunfaria em Arari.
Nesse mesmo pleito, de 1950,
foram eleitos os seguintes vereadores: “Hildo de Hungria dos Santos, PSP;
Inácio Custódio Batalha, PST; Leandro Pimenta Bastos, PTB; Leonília da
Conceição Ericeira Leite, PTB; Manuel Fernandes Ribeiro (Nezico Ribeiro), PSP;
Manoel de Sá e Silva, PST; e Vicente Matos Galvão, PST. Os anos de 1950 foram
de significativas mudanças para Arari, com a profícua administração da prefeita
Justina Fernandes Rodrigues. Iniciava-se, assim, uma nova era na administração
pública arariense, marcada por um programa desenvolvimentista e de reformas
sociais” (BATALHA, 2011, p. 139).
Justina Fernandes deu um novo
panorama ao município. Seu governo se fez presente tanto na sede quanto na zona
rural. Construiu estradas; Construiu o cemitério local; construiu escolas;
pontes e aterrados; realizou piçarramento de ruas; adquiriu com recursos próprios
um caminhão para prestar serviços à população mais carente; assentou em Arari o
primeiro médico que residia no próprio município, o doutor José Leão; dotou
Arari de energia elétrica, está obra progressista foi inaugurada em 22 de
novembro de 1953, às 18h30min, com grande festividade na cidade. Decerto, esta
foi a obra mais importante da sua profícua gestão. Nesse mesmo dia, foi
inaugurada também a estrada Arari-Miranda. No mandato de Bembém, foram
construídas as estradas vicinais de Bonfim e de Moitas.
No meio rural, a eminente
gestora realizou uma expoente reforma agrária em Arari. Construiu cercados para
lavradores dos povoados Bonfim, Curral da Igreja, Barreiros, Trizidela e Santa
Inês, garantindo, dessa forma, áreas de trabalho aos trabalhadores rurais
locais; distribuiu bolas de arame farpado aos pequenos lavradores do município,
em áreas não atendidas pelos cercados. Dinamizou a gestão pública, mudando a
estrutura administrativa do município, colocando-a em clima de desenvolvimento.
Dentre outras obras, Justina
Fernandes construiu açude no Lago da Morte; elevou em percentuais quantitativos
e qualitativos o ensino primário na sede e em povoados. Recuperou áreas de
Centrinho, Jenipapo, Santa Rosa, Morro Grande, Cornélio e Lago do Coco, que
estavam sendo invadidas pelos municípios de Itapecuru Mirim e Cantanhede. O
governo de Bembém também foi marcado por outras iniciativas: colaborou com os
projetos da Associação da Doutrina Cristã (ADC); colaborou com a construção da
Igreja Matriz; o seu apoio foi fundamental para a fundação da Cooperativa Mista
Agropecuária de Arari Ltda; colaborou, ainda, na criação da Escola de Artes
Gráficas Belarmino de Matos, de propriedade da ADC.
Com tantos feitos e obras
significativas, Bembém Fernandes deu uma lição a todos, de que quando se quer
fazer o melhor basta, simplesmente, fazer o melhor para o povo. Justina
Fernandes era uma mulher de ação. Certamente a nossa saudosa e benemérita
prefeita só conseguiu realizar grandes feitos porque teve planejamento, pés no
chão e vontade de ver seu povo feliz e vivendo com educação e qualidade de
vida. Observa-se que Justina Fernandes foi prefeita entre 31 de janeiro de 1951
a 31 de janeiro de 1956. Se a nossa respeitável prefeita realizou tantas obras
lá na década de 50, imaginem se ela fosse gestora pública nos tempos hodiernos.
Em 1953, no profícuo mandato da
nossa notável prefeita, foi realizada em Arari, entre os dias 22 e 25 de agosto
a “I Semana Rural do Maranhão”. Um megaevento que teve exposições de animais,
cereais e frutas, palestra de diversas autoridades, a presença de Dom José
Delgado; Arcebispo Metropolitano do Maranhão; Dom Eliseu Mendes, Bispo de
Fortaleza; Eugênio Barros, governador do Estado do Maranhão, além de outras
autoridades locais e de outros lugares. Toda a imprensa maranhense esteve em
Arari nesses dias, fazendo a cobertura do grande acontecimento no Estado
naquele ano.
Mas o governo da prefeita
Bembém não foi só de paz e tranquilidade, pois a política sempre foi aguerrida
e, muitas vezes, suja, em Arari. No decorrer do seu mandato ocorreu, em outubro
de 1954, o lamentável episódio do fuzilamento da igreja e da Casa Paroquial por
elementos da polícia do Estado, vindos da capital para recuperar as armas
tomadas aos policiais da cidade e supostamente entregues ao Padre Brandt, que
originou uma crise política quase transformada em tragédia, evitada graças à
boa condução do conflito pela prefeita. Bembém, que, mesmo fazendo oposição ao
governo do Estado, tinha o apoio popular, e não se rendeu. De várias maneiras buscou
o entendimento através do diálogo para a solução do tal quase funesto impasse.
REFERÊNCIAS
BATALHA,
João Francisco. Um Passeio Pela História do Arari, São Luís: Lithograf, 2011.
ERICEIRA,
Marise. Raízes de Arari. São Luís: Unigraf, 2012.
WEBER,
Max. Ciência e Política, duas vocações. São Paulo: Martin Claret, 2004.
Fonte: Adenildo Bezerra
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