Dos 82 deputados que integram a bancada federal do PMDB, apenas dois –os
gaúchos Darcísio Perondi e Alceu Moreira— registraram presença na sessão
extraordinária convocada para votar a MP dos Portos na noite passada. Dos 513
deputados com assento na Câmara, levaram seus nomes ao painel eletrônico
escassos 253, quatro aquém do quórum mínimo de 257. Esvaziada, a sessão teve de
ser encerrada pelo presidente Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Ele transferiu
a votação para esta terça-feira (14).
O episódio escancarou duas evidências que desafiam,
não é de hoje, o gigantismo da base congressual de Dilma Rousseff: 1) na contramão
da música de Roberto Carlos, os pseudo-aliados da sucessora de Lula exclamam:
como é grande o meu desamor por você!”; 2)
o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), por quem Dilma nutre indisfarçável
ojeriza, fala sério quando informa que inferniza o Planalto com o aval de sua
bancada.
Os liderados de
Eduardo Cunha só começaram a dar as caras depois que ficou patente que não
haveria mais votação. Ainda assim, apenas seis formalizaram as presenças. Antes
mesmo da consumação do fiasco, o Planalto viu-se compelido a abrir a caixa de
ferramentas. A segunda-feira começou com a reiteração das ameaças veladas de
retaliação. Ministros com filiação partidária foram instados por Gleisi
Hoffmann (Casa Civil) a cobrar lealdade das respectivas tropas.
Outra ministra, Ideli
Salvatti (Relações Instituicionais), atravessou a Praça dos Três Poderes com o
balcão nas costas. Em conversas com os líderes supostamente aliados, acenou com
mundos e, sobretudo, fundo$. Eduardo Cunha, o líder malquisto do PMDB,
recusou-se a conversar com Ideli. E recebeu tratamento diferenciado. O
vice-presidente Michel Temer, também do PMDB, chamou-o para uma conversa.
Chamou também a ministra Gleisi, principal operadora de Dilma na medida
provisória dos portos.
Abre parênteses: a
exemplo de Dilma, Gleisi está com Eduardo Cunha pelas tampas. Tachara de
“irresponsável” a declaração do líder segundo a qual o governo privilegiou
quatro grupos econômicos na MP dos Portos. Pois ali estava a ministra,
negociando com o “irresponsável” pedaços do texto de uma MP que o Planalto
dissera ser “inegociável.” Fecha parênteses.
Nessa primeira
conversa, ocorrida no final da tarde, foram inventariadas as diferenças e
delimitadas as perspectivas de ajustes no texto redigido pelo relator da MP dos
Portos, senador Eduardo Braga (PMDB-AM). Combinou-se um sengundo encontro para
o final da noite, no Palácio do Jaburu, residência oficial de Temer.
Temer teve de fazer
hora-extra. Seu expediente foi esticado até as primeiras horas da madrugada
desta terça (14). Após ouvir opiniões dos liderados e de outras legendas
governistas, Eduardo Cunha foi ao Jaburu. Dessa vez, seu interlocutor foi o
ministro José Eduardo Cardozo (Justiça). Na manhã desta terça, em novo encontro
com Gleisi, o líder do PMDB vai tentar fechar um texto que possa chamar de
nosso.
Os detalhes da
negociação de Eduardo Cunha com o Planalto não foram, por ora, divulgados. Ao
relatar aos amigos da Câmara os resultados de suas conversas palacianas, o
líder do PMDB soou como se estivesse a caminho de celebrar um acordo. Política
é isso, dizia ele. As duas partes cedem um pouco para que nenhuma perca tudo.
Um dos interlocutores
do deputado resumiu a cena: se fosse no governo FHC ou na administração Lula,
um acordo seria lucrativo para todo mundo. Sob Dilma, a mania do governo de
impôr suas vontades na base do vai ou racha dificulta a equação. No caso da MP
dos Portos, um par de vírgulas suprimido do texto oficial já dará ao governo a
aparência de um derrotado.
O condomínio governista converteu a MP dos Portos
numa omelete. Ao negar quórum na sessão noturna de segunda, os partidos
quebraram os ovos. Com seus dois registros de presença, a turma do PMDB deu
demonstrações de que considera divertido o barulhinho da casca quebrando.
Aprovada na Câmara, como se espera, a MP seguirá para o Senado. Ali também a
turma do crec-crec olha de esguelha para o Planalto. Se a
MP não for aprovada até esta quinta, morre.
Fonte: Blog do Josias de Souza
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