Miro Teixeira (PDT-RJ), um dos deputados mais experimentados da Câmara,
atribuiu aos partidos governistas, não à oposição, a dificuldade que Dilma
Rousseff teve para aprovar na Câmara a medida provisória dos portos. Foram
necessários dois dias e duas noites –uma jornada de 41 horas— para que a Câmara
concluísse a apreciação da proposta. O condomínio governista penou para obter
quórum. Abaixo a entrevista que Miro concedeu ao blog:
— Por que o bloco do governo entrou em curto-circuito?
Estamos vivendo um momento muito
interessante politicamente. Nada a ver com a medida provisória dos Portos. É
disputa de poder dentro da base do governo. É um desafio dentro da base. Fui
líder por dez anos. Não sou mais. Cansei. Mas ouso afirmar que vamos viver
momentos muito interessantes a partir da semana que vem. Tem muita coisa
misturada nisso: sucessão, ocupação de espaço dentro da base, disputa por
influência política. É só olhar o painel e fazer a conta. Vamos ver quantos
estão faltando da base. Peguei a marcação de presença.
— O que essa marcação revela?
Pedi à assessoria que
verificasse quem tinha marcado presença e não estava aqui, às quatro horas da
madrugada.
— O maior problema é o PMDB?
Houve um momento em
que faltavam 50 deputados deles no plenário. Do PT faltavam 20. Quem olha uma
coisa dessas se pergunta: que diabo é isso? É luta política, não há dúvida. É
gostoso de observar. Sobretudo quando os outros não sabem que você está sabendo
quem está travando a luta política. Isso é encantador.
— Acha que a oposição fez o papel dela?
Com a generosa
colaboração do presidente da Câmara. Só a sessão ternura do [Ronaldo] Caiado
com o [Anthony] Garotinho durou mais de 20 minutos. Um dizendo que não disse,
outro dizendo que gostaria de não ter dito. Fui líder de oposição durante
muitos anos. Nunca tive moleza. Era duro. Aqui, a oposição teve o tempo que
quis, falou as vezes que quis, botou em votação os requerimentos que quis.
Enfim, obstruiu do jeito que quis. Mas eles foram eleitos para isso. Fui
oposição a vida toda. Jamais diria que eles não podem fazer.
— A divisão do governismo ajudou?
Claro. A medida
provisória teve apenas quatro alterações.
— Quando a Casa estava cheia, o governo prevaleceu…
Diria que o governo
prevaleceu até o momento em que tudo se tornou decisivo [risos]. Podia ter
começado essa votação na semana passada. O PMDB fez obstrução pesada. Depois, o
PMDB fez um mundo de emendas e destaques de emendas. A oposição fez o papel
dela. A base do governo, nem sempre. Às três da madrugada, o quórum sumiu.
Houve problemas em muitas bancadas. Mas o PMDB e o PT tinham que estar aqui na primeira
fila o tempo todo. Tem um jogo aí que passa por dentro do PT. E é espetacular o
jogo que está ocorrendo no PMDB. É um balé muito bonito.
— Quanto há de portos nisso?
Não há nada de
portos. É óbvio que há um desacerto político.
— Quais serão os reflexos para a presidente da República?
Nenhum presidente
gosta de perder votações ou passar aperto no Congresso. Creio que, no ambiente
da política, essas coisas causam abalos. Na política de alianças da campanha
presidencial, por exemplo.
— Chega a esse ponto?
O pessoal para e diz:
ôpa, se os deputados, que fazem campanha junto com a campanha de presidente,
estão dizendo ‘dane-se’ para algo tão importante para a presidente, preciso ver
o que está se passando. Essa é a realidade da vida.
Fonte: Blog do Josias de Souza
Nenhum comentário:
Postar um comentário