quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Brasil tem 370 mil usuários regulares de crack nas capitais, aponta Fiocruz

Estudo indireto com 25 mil pessoas mediu consumo por 6 meses em 2012. Nordeste lidera lista em números absolutos, e 14% do total são menores
Usuários de crack reunidos no centro de São Paulo em imagem de janeiro

Um levantamento feito pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ligada ao Ministério da Saúde em parceria com a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), do Ministério da Justiça, revela que cerca de 370 mil brasileiros de todas as idades usaram regularmente crack e similares (pasta base, merla e óxi) nas capitais ao longo de pelo menos seis meses em 2012.
Por "uso regular", foi considerado um consumo de pelo menos 25 dias nos seis meses anteriores ao estudo, de acordo com definição da Organização Panamericana de Saúde (Opas).
Esse número de 370 mil pessoas corresponde a 0,8% da população das capitais do país e a 35% dos consumidores de drogas ilícitas nessas cidades. Além disso, 14% do total são crianças e adolescentes, o que equivale a mais de 50 mil usuários.

O estudo foi realizado com 25 mil pessoas de forma domiciliar e indireta, ou seja, cada indivíduo respondeu a questões sobre suas redes sociais (familiares, amigos e colegas de trabalho residentes no mesmo município) de forma geral e também especificamente sobre o uso de crack e outras drogas.
O resultado, portanto, é uma estimativa do que ocorre nas 26 capitais e no Distrito Federal – em outra pesquisa da Fiocruz, por exemplo, feita de forma direta com 7 mil entrevistados em 112 municípios (incluindo capitais e regiões metropolitanas) entre o fim de 2011 e junho de 2013, o total não passou de 48 mil usuários de crack e similares.
Segundo os autores, a metodologia indireta, chamada Network Scale-up Method (NSUM), permite que populações de difícil acesso (como presos, hospitalizados, estudantes, militares, religiosos, fugitivos e vítimas de catástrofes) também entrem nessa conta.

De acordo com o secretário da Senad, Vitore Maximiano, essas duas pesquisas são as maiores já feitas sobre crack no mundo, pelo número de entrevistados e pelo volume de dados gerados.
"Somando-se os dois estudos, são 32 mil questionários produzidos. Estamos investigando uma população oculta, que tem dificuldade de revelar seu uso, suas prevalências, porque há a questão criminal, a discriminação", destaca.
Maximiano diz que o usuário de crack, conforme os resultados, é alguém que vive uma forte exclusão social, tem baixa escolaridade e dificuldade de inserção no mercado de trabalho, com predominância de indivíduos não brancos (80%) e em situação de rua.

NORDESTE LIDERA RANKING - Entre as regiões do Brasil, o Nordeste lidera o uso regular de crack e similares, com 40% do total, seguido do Sudeste, do Centro-Oeste, do Sul e do Norte (veja o gráfico acima). Além disso, cerca de 80% dos usuários dessas substâncias fazem isso em lugares públicos e de grande circulação, como as ruas.
Nas capitais do Sudeste e do Centro-Oeste, o crack e similares correspondem a 52% e 47%, respectivamente, de todas as drogas ilícitas (com exceção de maconha) consumidas nessas cidades. Já no Norte, o crack tem uma participação menor no total: cerca de 20%.

Além disso, as capitais do Nordeste são as que concentram mais crianças e adolescentes usuários de crack e similares, com 28 mil pessoas. No Sul e no Norte, esse número é de cerca de 3 mil indivíduos em cada região.
Segundo Maximiano, o alto uso de crack no Nordeste está ligado ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) local, onde há uma população mais carente. Essa droga acaba sendo, portanto, uma alternativa barata. Já no Sul, a relação é de ordem sociológica, pois lá as pessoas tradicionalmente consomem mais drogas (sobretudo injetáveis) que a média nacional.
Nas mesmas cidades analisadas, estima-se que 1 milhão de pessoas usem drogas ilícitas em geral (cocaína, heroína, ecstasy, LSD, etc), com exceção de maconha. De acordo com os autores, ainda não é possível fazer um estudo em todo o país porque não há bancos de dados nacionais com informações suficientes sobre grupos específicos da população.

RESPOSTA DO GOVERNO - O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, anunciou nesta quinta-feira (19), durante entrevista coletiva em Brasília, que será feito um plano de três eixos para enfrentar o crack no país: um de prevenção, um de cuidados e outro de autoridade.
"(O primeiro) exige um conjunto de medidas de orientação social, que possa esclarecer os malefícios do uso do crack", explicou. Já o eixo de cuidados inclui tratar os usuários, contratar bons profissionais e manter um número suficiente de unidades de tratamento.

"O eixo autoridade tem a ver com medidas de segurança pública e o enfrentamento rigoroso das organizações de narcotraficantes", destacou.
O ministro afirmou também que os usuários de crack devem ser considerados dependentes químicos e, portanto, passíveis de tratamento, e não tratados com sanções penais.
"A maior parte dos usuários são pessoas de extrema vulnerabilidade social. Quando você vai ouvi-las, ao contrário do que muitos pensam, 80% querem tratamento e 92% querem apoio para conseguir emprego ou ensino para se reinserir socialmente", disse Cardozo.

AÇÕES - Em dezembro de 2011, a presidente Dilma Rousseff lançou um conjunto de ações integradas para o combate ao crack com orçamento de R$ 4 bilhões do governo federal. Na ocasião, a presidente anunciou a criação de 2.462 leitos destinados ao tratamento de usuários de drogas.
Segundo o ministério, foi investido desde então R$ 1,5 bilhão em ações de implementação e custeio de serviços que atendem aos usuários de crack, e 85 das 308 unidades de rua previstas foram construídas. De acordo com o ministro, o programa segue "estritamente" o cronograma para usar os recursos.

"Desde o início do programa isso passa por uma pactuação com estados e municípios com a definição de uma matriz de responsabilidade, para que a partir daí você consiga fazer a alocação dos recursos", disse o ministro. "Você tem o tempo de articulação do programa, que é exatamente o que foi feito para fazer acordos e negociar com estados e municípios."
Segundo o governo, desde o início do programa foram criados 1.885 novos leitos em 37 Centros de Álcool e Drogas, 60 Unidades de Acolhimento, 85 Consultórios na Rua e enfermarias especializadas em álcool e drogas.

O crack em números:
 
370 mil usam a droga nas capitais
80% dos usuários são homens
80% usam droga em local público
80% são não brancos
65% fazem 'bicos' para sobreviver
60% são solteiros
40% vivem nas ruas
40% estão no Nordeste
30% das usuárias já fizeram sexo para obter a droga
10% das usuárias ouvidas estavam grávidas
Usuários têm 8 vezes mais HIV
Tempo médio de uso é de 8 anos
16 é a média de pedras por dia

Fonte: G1


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