Luciane Hoepers, 33 anos, olhos verdes e corpo escultural, rebate em
entrevista a VEJA acusação de trabalhar como 'pastinha' de organização
criminosa: 'Ser bonita ajuda a ser vista, mas nunca a fechar negócios'
Aos 33 anos, a catarinense Luciane Hoepers se
transformou numa espécie de “musa do crime” depois de ser presa pela Polícia
Federal no último dia 19. A operação Miqueias investigava uma quadrilha suspeita de
fraudar fundos de pensão de prefeituras e levou para a cadeia vinte pessoas,
entre elas um conhecido doleiro de Brasília. De olhos verdes e corpo
escultural, Luciane, que já fez diversos ensaios sensuais e participou de
programas de televisão, seria uma das armas da organização para atrair
prefeitos a investirem nos “fundos podres”, que teriam baixa rentabilidade, de
acordo com a PF.
Em uma conversa de quase três horas com a reportagem de VEJA, Luciane
contou como começou a trabalhar na Invista Investimentos Inteligentes – acusada
de vender fundos de investimentos podres para prefeituras – e como
pretende se defender das acusações de corrupção, lavagem de dinheiro, formação
de quadrilha e crime contra o mercado financeiro. “Estou extremamente abalada.
Imaginei que cinco dias na cadeia eram o inferno, mas hoje tenho certeza de que
foi só o purgatório. O inferno é o que vivo hoje”, diz.
Segundo a PF, você fazia parte
de um sofisticado esquema de corrupção e lavagem de dinheiro. Dentro da
organização, sua função era a de 'pastinha'. Como funcionava esse
trabalho? Primeiramente, não há uma organização criminosa.
Nosso trabalho era apresentar uma solução rentável para os investimentos dos
fundos de previdência dos municípios. Como a maioria dos institutos de
previdência possui concentração de investimentos em fundos de bancos
públicos, e estes estão em queda constante de rentabilidade por sua carteira
serem constituídas apenas de títulos públicos, nosso trabalho era apresentar a
eles fundos de bancos privados, com créditos privados, selecionados em
segmentos em expansão e com garantias reais. Não existem fundos fraudulentos e
muitos menos criados para dar prejuízo, visto que todos têm pelo menos 50
milhões de reais em captação e são registrados nos órgãos competentes.
Ainda de acordo com a PF, as 'pastinhas' usavam a beleza para
seduzir os prefeitos e levá-los a investir nos fundos podres. Nunca existiu isso. Ser bonita apenas nos ajudava a sermos vistas, mas
nunca a fechar negócios. Os prefeitos nem decidem sobre esses investimentos.
Eles são de responsabilidade de um conselho de oito representantes, mais dois
gestores e um comitê de investimentos de quatro pessoas. Os prefeitos não
assinam o processo, e éramos todas capacitadas para o trabalho e conhecedoras
do assunto.
Havia pagamento de propina para os prefeitos? Quantos contratos
você fechou com prefeituras? Somente uma
prefeitura fez negócio comigo e nunca assumi pagar qualquer propina para
qualquer pessoa. Isso não existia.
Como você começou a trabalhar na empresa? Trabalhava em uma empresa privada, e um amigo em comum do Carlos Eduardo
Carneiro Lemos, também preso na operação, me apresentou a empresa, pois
acreditava que meu perfil se encaixava no trabalho, pela minha inteligência e
boa comunicação. O Eduardo era o responsável pela Invista.
Como era o seu relacionamento com o doleiro Fayed Troubosli? Sou muita próxima dele, assim como de outros acusados. Ele é um homem de
muitas qualidades e que possui muitos amigos. Em Brasília, ele é muito
respeitado pelo seu caráter.
Você foi presa por corrupção, lavagem de dinheiro, crime contra o
mercado financeiro e formação de quadrilha. Como se defende dessas
acusações? No inquérito estão claras as possíveis acusações,
mas a imprensa distorceu muita coisa. Foi citada prostituição e até o caso de
eu posar para a Playboy, e nem a delegada admite que isso ocorreu. O processo é
longo e muitas coisas serão esclarecidas.
O inquérito aponta o envolvimento de deputados estaduais e
federais no esquema, especialmente do estado de Goiás. Qual a participação
deles? Não existe nenhuma participação deles. Repito que
não há uma organização criminosa. Eles me atenderam para apresentação de algo
bom para a administração pública. Nunca passou disto. Eles não queriam se
envolver neste departamento de previdência. Continuamos amigos mesmo assim.
Estou muito abalada nestes dias com tantas acusações, mas me coloco à
disposição para todos os esclarecimentos aos envolvidos, partidos políticos e
Câmara dos Deputados.
Fonte: Veja.com