quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Mercado bilionário da fé avança com novos produtos e serviços


Um dos segredos para o crescimento das vendas, apoiado principalmente na alta taxa de expansão de evangélicos no Brasil, é o lançamento de novidades
Bíblia plástica – para ler até debaixo d'água
De bíblias à prova d'água ou com capa com estampa de animal, passando por agências de viagens, pelo mercado da moda e da música, as vendas de produtos cristãos estão longe da acanhada taxa de crescimento da economia do Brasil. As estatísticas ainda são escassas, mas empresários do setor contam que o segmento vive uma fase favorável.
No último levantamento publicado sobre o setor, em janeiro de 2013, o professor de ciências do comportamento da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), Mário René, chegou a cifras relevantes. Segundo a pesquisa, o mercado da fé movimenta R$ 12 bilhões por ano entre shows, eventos, produtos, entre outros.
"As compras de produtos relacionados à religião são totalmente impulsivas e emocionais" , diz o pesquisador. "Esse mercado é pouco estudado e muito pouco monitorado, então diversas informações escapam pelos dedos. "
ENTRETENIMENTO - Com crescimento de 60% no número de evangélicos nos últimos dez anos, está cada vez mais lucrativo trabalhar para esse público. É apostando no cenário de crescimento do público evangélico que Leo Ganem, ex-presidente da Geo Eventos, das Organizações Globo, comemora o segundo mês da Um Entretenimento. “Quando abrimos a empresa, queríamos dar foco mas tínhamos receio de trabalhar exclusivamente com esse público, mas estamos tão felizes com o resultado que alcançamos que vejo poucas possibilidades de trabalho fora do mercado gospel”, afirma.

Ganem está à frente da Expo-cristã, evento marcado para novembro deste ano. A ideia é receber em São Paulo 120 mil pessoas, devolvendo a popularidade e o prestígio ao evento, que corria o risco de ser engolido pela Feira Internacional Cristã (FIC), produzido pela Geo Eventos, empresa que encerrou as atividades em 2013. Entre os patrocinadores, nada menos que Bradesco e Mapfre Seguros. “Já sabendo que a Geo seria fechada, saí de lá e negociei um acordo de compra da marca para dar continuidade a esse trabalho.”
O executivo não é evangélico e hoje trabalha principalmente com feiras e gestão de talentos. Já conquistou a produção do Renascer Praise, além dos cantores Eli Soares e Hadassah Perez, dois expoentes da música jovem gospel, um na linha pop e a segunda na linha eletrônica.
Entre os eventos, Ganem planeja um festival de música. “O evangélico usa a música como principal meio de comunicação. Estamos buscando eventos para colocar nossos artistas na vitrine”, comenta. Para completar, o crescimento de evangélicos nos classes A e B, segundo o executivo, deve também elevar o tíquete médio de investimento em produtos evangélicos. “Eles já consomem muito livros e músicas. Dificilmente abraçam o produto pirata, o que ajuda muito.”
VIAGENS DE FÉ - Leva entre dois e três meses para um cliente decidir pela compra de um pacote de viagens – o investimento é alto e exige um chamado divino. Até a assinatura dos contratos, a vendedora de pacotes de viagens Fernanda Ariana de Almeida Alves procura manter contato. “Eu chamo os clientes pelo nome, mando e-mail com mensagens bíblicas. Eles querem ser bem tratados”, diz. “Vou alimentando esse sonho deles com a Terra Santa. Não tem trabalho mais abençoado que viabilizar esse sonho.”
É com esse nível de profissionalismo na sedução do cliente que opera a agência da Terra Santa Viagens, localizada na Galeria Conde de Sarzedas, no Centro de São Paulo, na rua de mesmo nome – apelidada de “Rua dos Crentes” e “Crentolândia” por alguns dos frequentadores. A agência é uma das operações da Terra Santa Operadora de Israel, empresa de turismo com foco religioso.
Os destinos são diversos: de Israel até um roteiro pelas Igrejas do Apocalipse e na Grécia. Fernanda vende pouco menos de 500 pacotes por mês. A cada viagem que fecham para Israel, por exemplo, levam entre 30 e 40 pessoas. “Nós temos muita concorrência, por isso não chegamos a tantas pessoas”, diz. Um dos principais canais de venda está nas mãos dos líderes religiosos – que são atendidos com um carinho especial pela loja.
Anualmente, 20 pastores ganham a oportunidade de fazer o roteiro em Israel pela metade do preço. “Nós fazemos o preço de custo, conseguimos patrocínios para baratear o preço das viagens”, conta Fernanda.
Os pacotes variam de US$ 3,2 mil – nove dias em Israel – até US$ 5,4 mil, para o roteiro das Igrejas do Apocalipse. Todas as viagens são acompanhadas de um guia local e outro que sai do Brasil junto com o grupo, para evitar problemas com o idioma. Os roteiros incluem passagens por pontos turísticos, mas principalmente por lugares citados nos livros sagrados. “Você imagina a emoção de ir aos mesmos lugares que estão na Bíblia? É indescritível”, diz Fernanda.
Fernanda é da Assembleia de Deus. O dono da agência é judeu e também proprietário da Caminhos Sagrados, voltada para o público católico. “A gente sempre faz as viagens separados, eles têm muitas divergências”, diz Fernanda.
Literatura evangélica vai além dos textos sagrados e dos ritos litúrgicos

SEM MISTURAR - A região central de São Paulo, ao menos para os negócios, é ecumênica. Quem desce a Conde de Sarzedas da rua Conselheiro Furtado na direção da baixada do Glicério, possivelmente não enxergará uma só loja com imagens de santos. São os cantores evangélicos que garantem o sucesso da barraca de Jarisson dos Santos Silva, que não é evangélico, mas vende CDs e DVDs piratas na “Rua dos Crentes”. “Não vendo nada de padre aqui, não. Não pode misturar, eles não gostam”, diz.
O maior sucesso são os discos de playback das músicas da cantora Aline Barros. “O pessoal quer cantar nas igrejas, então os playbacks acabam saindo bastante”, conta. O ambulante leva para casa pouco mais de R$ 60 por dia. “Dá para sobreviver”, fala.
CATÓLICOS FORA DO FOCO - Em Campo Grande (MS), o Judah Shopping Gospel vende produtos religiosos, mas o público evangélico é o que mais compra. Segundo Gerusa Maria de Oliveira, sócia-proprietária da loja, são cerca de 200 pessoas que vão pessoalmente às compras no local.
Apesar do nome, não se trata exatamente de um shopping, mas de uma única loja que vende todo o tipo de produto, como brinquedos. No entanto, Gerusa conta que as bíblias são as mais procuradas. “É de longe o produto mais vendido por aqui, seguido pelos CD”, afirma.
Desde que foi fundada, três anos atrás, o fluxo de clientes quase triplicou. “Precisamos aumentar a quantidade de produtos e também foi necessário contratar funcionários”, explica Gerusa. Atualmente, trabalham cinco pessoas na loja – dois funcionários, Gerusa, o marido e mais um familiar que ajuda nas contas. 
Não fosse pela Jornada Mundial da Juventude, que contou com a visita do Papa Francisco I no ano passado – e injetou R$ 1,2 bilhão na economia carioca –, o mercado de produtos católicos poderia ter tido um 2013 mais tímido. A Expo-Católica aproveitou a visita do líder religioso para impulsionar o número de visitantes. Foram seis dias de evento, com 500 mil pessoas. "Normalmente, recebemos umas 30 mil pessoas nos dias abertos ao público. Esse volume todo não vai voltar a acontecer", diz Kiara Castro e Castro, da Promocat, que promove o evento. 
Para Klara, o crescimento do mercado evangélico tem sido um fator de profissionalização também dos produtos católicos. "Agora que os padres e os músicos estão investindo em divulgação e no trabalho de marketing", diz. A curva é tímida, mas de crescimento.
BÍBLIAS EM QUEDA - Quem não tem muito o que comemorar são os fabricantes de bíblias. Segundo o maior fabricante do livro sagrado no País, a Sociedade Bíblica Brasileira (SBB), o número de unidades distribuídas em 2013 deve ser igual ao de 2012, de pouco mais de 7,4 milhões unidades – entre livros entre católicos, evangélicos e ortodoxos. No ano passado, o faturamento da empresa foi de R$ 88,8 milhões.
O secretário de Comunicação e Ação Social da Sociedade Bíblica Brasileira (SBB), Erní Seibert, estima que o País imprima hoje cerca de 12 milhões de bíblias por ano, considerando também a produção de outras editoras – o equivalente a um lvro a cada 2,6 segundos.
No entanto, essas são apenas estimativas do executivo. Além de pouco profissionalizado, esse mercado não tem muito controle sobre o que é produzido e distribuído. "Eu tento fazer algum monitoramento, mas não adianta, essas empresas não têm esses números – e as que têm não divulgam", afirma.
Fonte: IG

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