Grupo político de José Sarney se
aproxima de cinco décadas no poder. E os maranhenses, já acostumados aos
péssimos serviços públicos, agora estão à mercê de facções criminosas
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CLÃ – José Sarney, Roseana Sarney, Edison Lobão e Lobão Filho |
A sequência de horror registrada nos últimos vinte
dias no Maranhão chocou até mesmo uma sociedade já acostumada ao
noticiário de crimes brutais. O banho de sangue, com imagens de presos decapitados e esquartejados na penitenciária
de Pedrinhas, na Grande São Luís, já deixou 62 detentos mortos no período de um
ano. O retrato da barbárie nas cadeias maranhenses inclui ainda
estupros de familiares de presidiários nos dias de visitas íntimas. Na última
sexta-feira, a selvageria ultrapassou os muros do presídio: ataques a ônibus e
delegacias espalharam terror nas ruas de São Luís. Uma criança de 6
anos morreu queimada. O criminoso obedecia a uma ordem de
dentro do presídio de Pedrinhas.
Políticos
costumam culpar os antecessores pelos problemas crônicos enfrentados por suas
gestões. Mas a governadora Roseana Sarney (PMDB), no quarto mandato no
Maranhão, não poderá fazê-lo: com exceção de um período de dois anos, o Estado
é governado desde 1966 pelos integrantes do clã político de José Sarney.
O único revés do grupo ocorreu em 2006, quando
Jackson Lago (PDT) derrotou Roseana nas urnas. Mas ele só resistiu até o começo
de 2009, dois anos depois da posse: a Justiça Eleitoral tirou o cargo do
pedetista sob a acusação de compra de votos. Roseana herdou o mandato, e venceu
também as eleições de 2010.
Sarney nunca fez oposição a um presidente da
República: apoiou a ditadura militar enquanto lhe interessou e foi pulando de
barco até firmar a improvável aliança com o PT de Luiz Inácio Lula da Silva e
Dilma Rousseff. Dos dois, recebe deferências – e o poder de nomear
afilhados em órgãos importantes da administração federal.
Enquanto isso, os maranhenses convivem com um
cenário desolador: segundo dados do Atlas do Desenvolvimento, o Estado tem
o penúltimo lugar no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), à
frente apenas de Alagoas. A renda per capita, de 348 reais, é a menor do país.
Apenas 6,5% dos municípios do estado têm rede de esgoto.
Segundo
o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 20,8% dos maranhenses
eram analfabetos em 2012. Pior: o número significa um aumento em relação a
2009, quando 19,1% da população não sabiam ler e escrever. Ou
seja, durante o governo de Roseana, a situação se agravou – o Maranhão foi
o único Estado do Nordeste que regrediu no período.
Um dos poucos índices nos quais o Maranhão não se
destacava negativamente no plano nacional era a violência. Mas, como mostra o
episódio de Pedrinhas, isto também é passado: entre 2000 e 2010, a taxa de
mortes por armas de fogo no Estado subiu 282%, de acordo com o Mapa da
Violência. O surgimento de facções criminosas tornou mais evidente o fracasso
do governo nessa questão. O governo do Estado falhou ao evitar o conflito
sangrento entre criminosos encarcerados e novamente depois, ao tentar debelá-lo.
Por fim, receberá ajuda do governo
federal para resolver a situação, com a transferência de
detentos para outras unidades prisionais do país.
O
Maranhão já era pobre quando Sarney assumiu o poder. E sabe-se que não é fácil
resolver o problema do subdesenvolvimento crônico. Mas, em 2014, isso já não
pode ser usado como desculpa.
Fonte: Veja on-line
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