A morte do jornalista
Décio Sá completa um ano nesta terça-feira (23). Nesse período as investigações
realizadas pela Polícia Civil e Ministério Público levaram ao indiciamento de
13 pessoas que teriam formado uma espécie de ‘consórcio’ para assassinar o
jornalista, devido a denúncias então publicadas em seu blog, ligando um grupo
de agiotas a um assassinato no Piauí. A TV Mirante teve acesso a detalhes do
inquérito sobre o caso, que mostram com exclusividade como os assassinos teriam
planejado o crime que chocou o país.
Os investigadores chegaram aos supostos mandantes
do assassinato após os desdobramentos de outra investigação: o assassinato do
empresário Fábio Brasil, em Teresina, no Piauí.
De acordo com a polícia, a quadrilha de agiotas
emprestava dinheiro a juros para prefeitos durante as campanhas eleitorais.
Depois de eleitos, os políticos faziam os pagamentos com dinheiro público –
usando cheques.
Fábio Brasil era um empresário do Piauí que,
segundo as investigações já fez parte da quadrilha, mas ficou devendo dinheiro
para os chefes do bando: Glaúcio Alencar e o pai dele, José de Alencar Miranda.
Os dois teriam contratado um dos maiores
pistoleiros do norte e nordeste do país – Jhonatan dos Santos Silva, que
confessou ter matado quase cinquenta pessoas
Uma pessoa que mantinha contato com os agiotas e
que tem medo de mostrar o rosto, foi fundamental nas investigações. Ele foi o
primeiro a contar à polícia, antes mesmo da prisão do pistoleiro, que teria
ouvido Gláucio Alencar falar que pensava em matar Fábio Brasil: “Surgiu essa
conversa que o Ricardinho [integrante do grupo] foi lá dizer que o Fábio
Brasil queria matá-lo por conta dessa… pra não pagar a dívida. Foi aí que o
Glaucio se mostrava muito preocupado e veio a proposta ‘dele’ virar o jogo para
matar o Fábio Brasil.”
Além do assassinato de Fábio Brasil, o pistoleiro
confessou ainda ter matado o jornalista Décio Sá, no dia 23 de outubro do ano
passado, em São Luis – a mando da mesma quadrilha de agiotas.
A TV Mirante teve acesso aos depoimentos prestados
pelos envolvidos – que foram filmados pela polícia e encaminhados ao Ministério
Público e à Justiça. Também foram feitas acareações, onde os acusados mostram
uma série de acusações mútuas, além de muitas contradições.
Primeiro, o pistoleiro confessa os crimes e aponta
quem seriam os mandantes. “Eu só sei que um era o Jr. Bolinha, que contratou
meus serviços e outras duas pessoas. Um é o amigo dele de infância, que é o
capitão e o outro é o que ele chamava de Gláucio e que eu não conheço. Só ouvia
ele falar.”
Todos os citados foram investigados e presos em
seguida. Ao todo houve 13 indiciados pelo assassinato do jornalista, e sete ela
morte do empresário Fábio Brasil, no Piauí. “Fomos a São Luís onde interrogamos
pessoalmente o Jonathan, na presença do promotor Benedito Filho e ele nos
confirmou que veio a teresina a mando do Glaucio”.
No Maranhão, o pistoleiro foi colocado frente a
frente com o suposto contratante, José Raimundo Sales Júnior, o Jr. Bolinha,
que seria o braço direito de Glaucio na quadrilha. Bolinha negou tudo.
Mas o pistoleiro contou detalhes de como era a
chácara de Júnior Bolinha, onde, segundo ele, eram marcados os encontros para
combinar as mortes. “Casa de andar, com a frente de vidro, cercada de madeira
na parte de cima. Piscina redonda, comprida, mas redonda”, explicou.
Exaltados, os dois chegaram a discutir no
interrogatório.
Junior Bolinha, que seria o contratante do
pistoleiro, também trocou acusações com o suposto mandante, Glaucio Alencar,
apontado pela polícia como chefe da quadrilha. Glaucio admite que recebeu
proposta de Bolinha para matar Fábio Brasil.
Os dois assumiram ainda que se encontraram em um
posto de combustíveis, em São Luís, na noite anterior à morte de Brasil.
Gláucio diz que foi pedir para bolinha não matar o empresário.
Houve ainda um outro encontro em uma panificadora
na manhã seguinte, quando Fábio Brasil já havia sido assassinado. Glaucio diz
que ficou sabendo ali que bolinha havia mandado matar o empresário do Piauí.
Bolinha diz que marcou o encontro porque queria saber se Glaucio tinha
envolvimento no crime e os dois voltaram a trocar acusações.
G1.com
AGIOTAGEM
Os depoimentos colhidos durante as investigações dos assassinatos levou a polícia a descobrir que a quadrilha acusada dos crimes mantinha um esquema de agiotagem e corrupção em prefeituras que desviou mais de cem milhões de reais de cofres públicos, fraudando licitações nas áreas de saúde, merenda escolar e aluguel de máquinas.
Fábrio Brasil, morto no Piauí, teria dado um golpe
na quadrilha e morreu por isso.
Décio Sá foi assassinado porque denunciou em seu
blog o grupo que matou o empresário no Piauí também agia no Maranhão. “Essas
quadrilhas emprestavam dinheiro a gestores municipais durante o período
eleitoral, depois cobravam juros extorsivos a esses gestores e através de notas
frias simulavam vendas às prefeituras, de medicamentos e merenda escolar.
Através dessa simulação de comércio feito com essas prefeituras, conseguiam
recuperar seus investimentos”, disse o secretário de Segurança Pública, Aluísio
Mendes.
A acareação entre o suposto mandante e o homem que
teria contratado o pistoleiro para cometer os dois crimes termina com a ironia
de um dos acusados. “Vamos fazer o seguinte: vamos dizer que o mandante é o
coelhinho da páscoa. Se não tem o mandante, prende o coelhinho da páscoa”,
afirmou Glaucio Alencar.
Fonte:
Blog do Marcelo Vieira
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