A volta de Renan Calheiros à presidência do Senado
custou o contracheque a duas estagiárias. Trabalhavam na Secretaria de Recursos
Humanos da casa. Foram mandadas ao olho da rua depois de veicular na internet
mensagem considerada ofensiva. Uma das demitidas, Ariadina Barbosa Gomes de
Oliveira, é sobrinha do presidente do STF, Joaquim Barbosa.
Deve-se
à repórter Helena Mader a conversão do episódio em notícia.
A encrenca ganhou movimento na semana passada, na quarta-feira
pré-carnavalesca. Na manhã daquele dia, um rato irrompeu na repartição onde
trabalhavam as jovens. Houve corre-corre. Armada de um calendário de papelão, a
copeira do setor matou o roedor. E as estagiárias tiveram a inopinada ideia de
tirar fotografias.
Colega
de Ariadina, Laura Meirelles pendurou a foto do cadáver no Facebook. Na
legenda, lia-se a seguinte frase: “E a gente que achou que o único problema
aqui fosse o Renan Calheiros” (repare na foto lá do alto). Foi imitada pela
sobrinha de Barbosa, que também levou à rede social a imagem do rato com um
comentário análogo ao da amiga.
Por
mal dos pecados, Renan retornara à presidência do Senado havia seis dias. E a
chefia da Secretaria de Recursos Humanos achou melhor demitir as moças. A
parente do presidente do Supremo apagou sua conta no Facebook e lacrou os
lábios. A amiga decidiu falar.
Laura
contou que, após deixar o Senado na manhã daquela fatídica quarta-feira, seu
telefone soou. Era o chefe. Cobrou explicações sobre a postagem. Agendou para a
manhã seguinte uma reunião. No encontro, as estagiárias foram apresentadas às
cartas de demissão. Ouviram um pedido para que assinassem as peças.
“Levei
um susto, não imaginei que fossem tomar uma medida tão radical”, disse Laura.
“Não fizemos nenhuma associação do senador Renan Calheiros ao rato. Acho que
foi um mal-entendido. Vários servidores do Senado compartilharam o
abaixo-assinado contra o Renan nas redes sociais, eu mesma havia feito isso semanas
antes.”
Estudante
de Direito, Ariadina, filha de uma irmã de Barbosa estagiava no Senado desde
2011. A amiga, matriculada num curso de Administração, escalara a folha em
setembro do ano passado. O salário não era grande coisa: por meio expediente,
R$ 829 mensais, mais um socorro de R$ 130 para o transporte.
Instado
a manifestar-se, o Senado falou por meio de uma nota da Secretaria de
Comunicação Social. No texto, o episódio foi tratado como “ato de
indisciplina”. “Nesse contexto, a administração tem o dever de agir de acordo
com o termo de compromisso assinado pelas estagiárias.”
Sem
vínculo empregatício estável, as duas puderam ser afastadas sem a necessidade
de abertura de processo disciplinar, normalmente exigido no serviço público.
“Além do conteúdo ofensivo da matéria, vale registrar que as estudantes
postaram-na durante o horário de expediente, utilizando ferramentas de
trabalho”, acrescenta a assessoria do Senado em sua nota.
Procurado,
Renan Calheiros mandou dizer que não tomara conhecimento das demissões. O
gabinete de Joaquim Barbosa confirmou o parentesco do ministro com Ariadina.
Mas informou que ele não comentará o episódio. Corre no tribunal a denúncia
protocolada pelo procurador-geral Roberto Gurgel contra o seminovo presidente
do Senado.
Por uma dessas ironias que o
cotidiano é mestre em fabricar, a notícia sobre a demissão das estagiárias que
associaram o rato a comentários sobre Renan foi levada à internet, na sexta
(15), pelo próprio Senado. Pode ser lida na íntegra aqui, graças aos bons préstimos do
serviço de clipping que
reproduz notícias sobre os senadores.
Do blog de Josias de Souza
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