Para Beto Albuquerque, não há
surpresas diante das tensões entre PSB e Rede. Sobre debandada, é enfático:
'Assessor não disputa eleição'
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'NÃO HÁ DEBANDADA' - Candidato a vice Beto Albuquerque minimiza crise no PSB |
Filiado ao PSB desde 1986, o deputado gaúcho Beto
Albuquerque, de 51 anos, foi escolhido pelo partido para integrar a chapa de
Marina Silva ao Planalto como candidato a vice porque preenchia importantes
requisitos para a vaga: além de ter sido braço-direito de Eduardo Campos, morto
em acidente aéreo na semana passada, tem boa relação com a nova candidata da
sigla – que, já é possível perceber diante das baixas na equipe de campanha,
está longe de ser unanimidade no PSB. As divergências entre os socialistas e
Marina foram escancaradas nesta quinta-feira, com a saída de dois importantes
nomes da sigla da campanha presidencial: o secretário-geral do partido, Carlos
Siqueira, e o coordenador de mobilização Milton Coelho preferiram abandonar o
projeto a lidar com a ascensão da ex-senadora no partido. Ex-coordenador-geral
da campanha, Siqueira não só deixou o cargo como o fez disparando pesada
artilharia contra Marina. Diante do racha interno, Beto
Albuquerque não se diz surpreso: “Quando nos coligamos com a Rede [grupo
político de Marina], sabíamos que eles programaticamente têm restrições a
doações. Sabíamos que eles não seriam PSB e que não concordavam com alguns
palanques”, afirma. E minimiza a saída dos colegas: “Esses cargos
intermediários de assessoramento não são mais importantes do que a campanha. Se
as pessoas não quiserem ficar, outros assumirão as tarefas. Assessor não
disputa eleição”, disse. Além do papel de conciliador, Albuquerque funcionará
na campanha como "fiador" de Marina junto ao agronegócio, o
deputado tem bom trânsito entre empresas de celulose e produtores de
cereais gaúchos.
Confira a seguir a entrevista de Albuquerque ao
site de VEJA:
O senhor tem uma longa
trajetória na política gaúcha, mas é desconhecido no âmbito nacional. O que
acredita que pode agregar à campanha de Marina?
Eu coordenei toda a pré-campanha de Eduardo Campos,
andamos muitos Estados brasileiros desde 2012, visitamos vários setores
produtivos, participamos de vários debates nacionais. A um candidato a
vice-presidente cabe, acima de tudo, ser discreto, fazer pontes e não imaginar
que o vice deva ser maior que o candidato à Presidência. Vou agregar por meus
compromissos. Tenho causas que dialogam com o país todo e vou contribuir sendo
um companheiro leal, fiel e zeloso a Marina.
O senhor também vai assumir a função de pedir votos em palanques
nos quais Marina não vai subir, como Rio de Janeiro e São Paulo. Nesses
Estados, como pretende pedir votos para a Marina sem a presença dela?
Nos Estados somos um partido forte e organizado.
Vou representar a Marina onde ela não puder ir com a presença da chapa
majoritária, que vai estar sempre em atividades que o partido vai organizar. A
política é feita pelo esforço dos partidos coligados. O vice tem de cumprir a
tarefa de representação, de substituir a candidata, que é a Marina.
Dois influentes integrantes do
partido – Carlos Siqueira e Milton Coelho – deixaram a campanha no primeiro dia
após a oficialização de Marina. Como o senhor analisa essa debandada?
Não existe debandada. O PSB deliberou por unanimidade a chapa Marina-Beto.
Cargos intermediários de assessoramento não são mais importantes do que a
campanha. Se as pessoas não quiserem ficar, outros assumirão as tarefas. Acho
que se está fazendo uma tempestade em copo d’água. Não vamos ficar parados
discutindo crise de assessorias. Vamos tratar da campanha.
Nos bastidores, fala-se em uma
disputa de egos entre o PSB e o grupo de Marina. O senhor concorda?
Assessor não disputa eleição. Quem disputa a
eleição são os candidatos. Não se pode querer disputar alguma coisa se não se é
candidato.
A Ambev doou para a campanha de
Campos, mas a Rede, que agora está à frente do comitê de finanças, não aceita
doações de alguns setores, como os de bebida, tabaco, armamento e agrotóxicos.
O senhor concorda com esses vetos?
Para o PSB, a única proibição de doação é de dinheiro ilícito ou de fonte
ilegal. As responsabilidades com a campanha são agora de Marina e assim será.
Quem tem a responsabilidade de fazer as coisas funcionarem é a Rede, que tem a
candidatura dentro do PSB. A coordenação de arrecadação tem de pertencer à
candidatura presidencial. Se eles têm esses limites, paciência. Nós vamos ter
de arrumar recursos de outros setores. Campanha sem dinheiro não é possível
fazer.
O senhor recebeu doações de
empresas ligadas ao agronegócio. Se Marina exigisse, deixaria de recebê-las?
Eu não tenho porque captar recursos. Sou candidato a vice. A candidatura
presidencial e seu comitê financeiro têm de fazer isso. Se não querem recursos
de quem temos contato, a gente não pede. Eu não vejo nenhum problema em uma
empresa de armazenagem de grãos ou de reserva de sementes contribuir com a
campanha. Agora, se não pode, não se pedirá para esses setores. Mas eu não vejo
razões para proibir esse tipo de contribuição.
O senhor não acha que o partido está cedendo demais às imposições
de Marina?
Marina é a candidata. Nós concordamos que ela
estaria dentro do PSB. Os critérios dela precisam ser respeitados. O nosso
candidato a presidente, infelizmente, morreu. Ele era o nosso protagonista. Mas
a Marina era a vice do Eduardo e era natural que ela o substituísse. Não há
nada que esteja acontecendo e que não sabíamos que ocorreria. Temos de
compreender a dinâmica da Marina, o pensamento da Rede e conviver com eles.
Quando nos coligamos com a Rede, sabíamos que eles programaticamente têm
restrições a doações, sabíamos que eles não seriam PSB, que não concordavam com
alguns palanques. Para nós não há nenhuma surpresa.
Como analisa as contradições
entre o senhor e Marina? Em relação ao agronegócio, causas ambientais...
Nós nos completamos. Eu votei a favor da liberação
da soja transgênica, eu sou a favor da ciência, da inovação e da tecnologia,
mas quem editou essa medida provisória foi o presidente da República. Eu não
tenho medo de inovação, da tecnologia e de avanços. Ninguém é obrigado a
consumir produtos transgênicos, está tudo identificado nos produtos. Eu não me
sinto em contradição com Marina em relação ao que ela pensa e tenho certeza de
que não estou em contradição. Em 2005, relatei a concessão de florestas
públicas, que era um projeto dela. Eu consegui aprovar esse projeto em menos de
um ano. Nós temos coisas em comum e nos completamos.
Passada a comoção da morte de
Campos, o que esperar das pesquisas de intenção de voto?
Marina vai continuar crescendo. A morte
de Eduardo não foi em vão, ela despertou na sociedade o interesse pelas
coisas que estão acontecendo no país. Há um movimento muito grande de mudança
no Brasil e acho que isso foi despertado, infelizmente, pela morte do Eduardo.
As pessoas estão mais mobilizadas e eu tenho convicção de que Marina vai
crescer muito nesse próximo período.
Chegar ao Planalto era uma
pretensão do senhor?
Não. Nós hoje somos fruto de uma tragédia. Eu era candidato ao Senado.
Obviamente, sempre tive vontade de avançar – já tinha tomado a decisão de não
ser candidato à reeleição na Câmara. Queria ir para frente. O Senado já era um
desafio e agora a vice-presidência da República é um desafio muito maior, que
vamos encarar com muita motivação para ajudar a mudar o Brasil.
Fonte: Veja
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