Aécio liderou apuração até 19h32m de domingo. Dilma virou o
jogo com quase 90% dos votos apurados. Técnicos ficaram isolados no tribunal
para garantir o sigilo das informações
Enquanto o Brasil inteiro
esperava ansioso dar 20h para saber quem estava na frente na apuração dos votos
para presidente da República, cerca de 30 privilegiados acompanhavam a apuração
voto a voto desde as 17h, em duas salas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Eram técnicos de informática do tribunal, responsáveis por checar a
regularidade da totalização. O candidato do PSDB, Aécio Neves, largou na
frente. A virada foi registrada às 19:32:03, quando estavam somados 88,9% do
votos.
Nesse horário, a presidente Dilma Rousseff
(PT) atingiu 47.312.422 votos, ou 50,05% do total apurado até então. Aécio
ficou para trás de forma irreversível. Tinha 47.224.291 votos, ou 49,95% do
total. Embora o momento tenha sido emocionante, nenhum dos presentes comemorou
ou demonstrou tristeza. Afinal, estavam todos a trabalho. A vitória inicial e
fugaz do tucano ocorreu porque a apuração começou com as urnas do Sul e do Sudeste,
onde ele tem maioria de votos.
— Deu uma angústia ver o desenrolar das
coisas e não poder compartilhar com ninguém — lembra o secretário de Tecnologia
da Informação do tribunal, Giuseppe Janino, que chefiava o grupo. — Para quem
viu, foi uma disputa bem emocionante.
A
ordem do presidente do TSE, ministro Dias Toffoli, era para que os técnicos
ficassem isolados e não passassem a ninguém informações sobre a apuração antes
das 20h – nem para ele mesmo. Janino determinou que todos os servidores
desligassem o celular e não tivessem acesso ao e-mail, ou redes sociais. Era
impossível a comunicação com familiares e amigos. Eles só poderiam conversar
entre si. Foi providenciado um lanche para evitar saídas.
— Desliguei meu celular também, para não
receber pressão. Não falei nem com a minha família — garante o secretário. — A
ordem era para que não passássemos informação nem se tivesse uma decisão do
presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) determinando isso.
Na porta das duas salas, cartazes avisavam
que o acesso era restrito. Um segurança garantia que ninguém sairia do tribunal
a pretexto de ir ao banheiro, por exemplo. Ao sair da sala, o vigia seguia o
servidor até o retorno, para não haver nenhum vazamento de informações.
— Todos estavam com o celular desligado. As
comunicações eram somente no trabalho. É muito difícil isolar as pessoas hoje,
todos têm um computador no celular — observa Janino.
Segundo o secretário, o isolamento tão
restrito dos servidores foi inédito. Isso porque o país tem hoje quatro fusos
horários, por conta do horário de verão. O primeiro horário é o de Brasília. O
último, o do Acre.
DISPUTA ACIRRADA - As eleições foram encerradas na maior parte do
país às 17h do horário de Brasília. A partir dessa hora, a Justiça Eleitoral
começou a apurar os votos. No entanto, a divulgação só poderia ser feita a
partir das 20h, quando os relógios do Acre marcassem 17h e a população do
estado acabasse de votar. A precaução existe para que a apuração dos votos não
influencie os eleitores do Acre.
A situação ficou mais crítica por conta do
acirramento da disputa. Às 20h, quando a divulgação da apuração foi liberada ao
público, os percentuais dos dois candidatos estavam muito próximos. A definição
do resultado ocorreu apenas às 20:27:53, com 98% das urnas apuradas. Dilma tinha
51,45% dos votos e Aécio, 48,55%.
— Foi um fato inédito, porque não tínhamos uma situação dessa, tão acirrada, e nem quatro fusos horários para administrar — diz Janino.
Depois de divulgado o resultado das eleições,
Toffoli foi pessoalmente cumprimentar a equipe de Janino e parabenizar o grupo
pelo trabalho bem sucedido. Os técnicos do TSE estão há quatro meses
trabalhando direto, sem folga nem nos finais de semana. E parece que o descanso
não virá tão cedo.
— No mês que vem, vamos começar a trabalhar
para as próximas eleições intensamente — anuncia Janino, servidor do tribunal
desde 1996 e desde 2006 ocupando o cargo atual.
Fonte: O Globo
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