Nas próximas semanas, o senador José Sarney
(PMDB-AP) vai decidir se concorre à reeleição ou se aposenta das disputas
eleitorais. Se escolher a segunda opção, será a primeira vez desde 1965, quando
ele foi eleito governador do Maranhão, que nenhum Sarney ocupará cargo
majoritário. Já se escolher disputar o sexto mandato no Senado, o ex-presidente
enfrentará uma das campanhas mais difíceis em 60 anos de vida pública, com
risco real de derrotada nas urnas, e sua sobrevida política dependerá em grande
parte de um ex-adversário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Pesquisas internas
encomendadas por políticos locais apontam uma rejeição altíssima ao nome de
Sarney. Ele aparece em segundo ou terceiro lugar na disputa ao Senado pelo
Amapá, seu domicílio eleitoral, atrás do deputado Davi Alcolumbre (DEM-AP), um
comerciante de 36 anos, e próximo da vice-governadora Dora Nascimento (PT),
geóloga de 46 anos nascida em uma família de ribeirinhos.
O cenário político atual
também é mais hostil a Sarney do que era em 2006, quando o senador se elegeu em
uma disputa apertada, na qual bateu a novata Cristina Almeida (PSB) por menos
de 10 mil votos e chegou até a dançar na TV o “marabaixo”, ritmo tradicional do
Amapá.
Ao contrário de oito anos
atrás, Sarney não conta com o apoio do governo estadual nem da prefeitura de
Macapá, nas mãos do PSB e PSOL, respectivamente.
Pessoas próximas ao senador
apontam o apoio do PT e a retirada da pré-candidatura de Dora como fundamentais
para que Sarney decida disputar mais uma eleição. O PT do Amapá vai se
posicionar oficialmente no dia 14, mas a tendência é apoiar a reeleição do
governador Camilo Capiberibe (PSB) e, principalmente, Dora. “A vaga para o
Senado é o que nos interessa”, disse a vice-governadora.
O projeto conta com apoio
unânime do PT do Amapá, mas a direção nacional tem a prerrogativa de decidir a
estratégia eleitoral nos Estados e, se julgar necessário, intervir nos
diretórios estaduais a exemplo do que fez em 2010 para garantir a aliança com a
governadora Roseana Sarney (PMDB).
Divisão. A direção nacional
do PT ainda não se posicionou oficialmente sobre o Amapá, mas está dividida
quanto à possibilidade de renovar o apoio a Sarney no Estado. Setores importantes
da cúpula petista ligados à corrente majoritária Construindo um Novo Brasil
(CNB) estão dispostos a levar a decisão a voto.
“Vamos sustentar nossa
candidatura ao Senado em todas as instâncias do partido”, afirmou Jorge Coelho,
um dos vice-presidentes do PT nacional e principal defensor da candidatura de
Dora na cúpula petista
A executiva nacional do
partido é composta por 20 integrantes. Um cardeal petista lembrou que
recentemente o presidente nacional da legenda, Rui Falcão, se desentendeu com
Roseana Sarney. Em uma reunião do partido realizada em Fortaleza (CE), no
início do ano, Falcão disse que foi “maltratado” pela governadora durante um
encontro em São Luís. Dias depois, o dirigente disse ter recebido uma ligação
de Roseana na qual ambos acertaram os ponteiros.
O principal argumento dos
defensores da candidatura própria é a fragilidade política de Sarney no Amapá.
“Espero que o ex-presidente compreenda isso e apoie a candidata do PT”, afirmou
Coelho.
Interferência. Com o PT do
Amapá e parte importante da cúpula nacional contrários ao apoio à reeleição de
Sarney, a possível aliança dos petistas com o ex-presidente vai depender da
interferência direta de Lula, que até agora não se manifestou ao partido.
“É lógico que o Lula pode
pedir para a gente retirar a candidatura”, admitiu Dora. “Mas se eu não for
candidata, outro partido vai lançar alguém no meu lugar e derrotar o Sarney.”
Para Davi Alcolumbre, a
indefinição do ex-presidente aumenta as chances dos adversários. “A dúvida
acabou inibindo possíveis candidaturas de pessoas mais comprometidas com Sarney
e isso acabou abrindo espaço para surgirem outras candidaturas como a minha”,
disse o deputado.
Sinais. Aos 82 anos, com a
saúde fragilizada, Sarney perdeu uma única eleição, a primeira, em 1954, para
deputado federal. Acabou tomando posse como suplente no ano seguinte.
Pela lei eleitoral, ele tem
até 30 de junho para decidir se vai enfrentar mais uma eleição, mas, segundo
pessoas próximas, a decisão será anunciada em no máximo duas semanas. Embora
diga a interlocutores que deseja passar mais tempo ao lado da esposa, Marly, em
São Luís, o senador tem dado sinais cada vez mais fortes de que não vai
pendurar as chuteiras.
Na quinta-feira ele se reuniu
em sua casa em Brasília com o presidente da Assembleia Legislativa, Júnior
Favacho (PMDB), o presidente estadual do PSDB, deputado federal Luiz Carlos e
os deputados estaduais Sandra Ohana (PP), Michel JK (PSDB) e Bruno Mineiro (PT
do B) para tratar da candidatura deste último ao governo do Amapá e, dessa forma,
aglutinar forças políticas em torno de seu nome. “Vamos formar uma ampla frente
de dez partidos para eleger Bruno ao governo e reeleger o senador Sarney”,
disse Favacho.
Além disso, Sarney
protagonizou o programa partidário do PMDB local e trabalhou no Congresso pela
aprovação de uma emenda constitucional que beneficia 30 mil famílias do Estado.
“Se ele não tiver certeza da
vitória, não será candidato porque não quer encerrar a biografia com uma
derrota”, avalia o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP).
Fonte: Estadão
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