Com ou sem constitucionalização
do financiamento empresarial de campanhas, os cofres dos partidos estarão mais
esvaziados para as disputadas municipais
A generosidade de empresas que
costumam financiar campanhas eleitorais milionárias está em discussão a partir
da Operação Lava Jato. Conclusões preliminares dos investigadores, do
Ministério Público e da Polícia Federal, apontam que vigorava o regime de troca
de favores. Patrocínio eleitoral por benesses em contratos com a Petrobras, por
exemplo.
De forma indireta e, em tese,
lícita, milhões de reais supostamente despendidos pelo setor privado saíam, em
verdade, dos cofres públicos. Agora, empresários estão na mira do Ministério
Público e já começam a responder por acusações de lavagem de dinheiro. A curto
prazo, o resultado das punições será um volume menor de doações no pleito de
2016.
“A sensação de redução da
impunidade de empresas e corruptos gera uma reação: eles querem se prevenir
porque percebem que é para valer”, diz o diretor-presidente do Instituto Ethos,
Jorge Abrahão. A organização se compromete a orientar empresas a gerir os
negócios de modo socialmente responsável. Abrahão relata que o Instituto passou
a ser mais procurado por empresas que buscam ajuda para evitar se envolver em
situações de corrupção, especialmente com financiamento de campanhas.
O até então crescente gráfico
do custo das eleições fará uma curva para baixo pela primeira vez em décadas.
Nas eleições do ano passado, mais de 70% das doações vieram de empresas. As
maiores chegaram a doar para mais de 20 partidos. “A intenção é contribuir para
o debate democrático no Brasil. Não há ligação partidária. Prova disso é que
nossas doações foram para maioria das grandes legendas”, justifica a JBS
(Friboi), maior financiadora da última corrida presidencial.
No entanto, o cientista
político Valeriano Costa alerta que empresas têm uma relação prática com a
política e são voltadas para resultados. “É até imoral que uma empresa de
cigarros, por exemplo, financie um parlamentar que possa legislar em prol dela.
Sempre há um interesse por trás”, argumenta.
O economista Celio Fernando
encara o efeito Lava Jato de maneira positiva. “O dinheiro gasto nas campanhas
continuará circulando na economia. Mas, em vez de propinas, ele será usado para
o bem social”, pondera. Por outro lado, ele reconhece que setores ligados ao
marketing político podem sair prejudicados. “É possível que afete mais gráficas
e a distribuição de material promocional”, explica.
E
OS PARTIDOS? - O caixa das agremiações deve sofrer com o
baque da retração de seus maiores patrocinadores. Mesmo assim, há quem olhe
para situação com otimismo.
O presidente estadual do PSDB,
Luiz Pontes, diz que a provável inibição de empresas em doar vai reduzir o
custos. “Partidos e empresas estão todos mal vistos. O melhor dessa crise é
baratear a campanha. Isso facilita”, diz.
Na Câmara dos Deputados, a
atual proposta de reforma política prevê que a doação de empresas, que é legal,
passe a ser também constitucional. Embora a questão siga indefinida no
Congresso, partidos já se preparam para encontrar novas formas de captação de
recursos.
“Teremos que ser mais
criativos. Vamos buscar a ajuda de pessoas próximas”, diz o deputado estadual
Heitor Férrer (PDT-CE). Para o presidente estadual do PT, Diassis Diniz, a
saída é investir em militância.
Fonte: O Povo on-line
Nenhum comentário:
Postar um comentário