Alvo de três inquéritos, presidente do Senado
desistiu de abrir CPI sobre o MP. Agora, planeja como retaliação impedir a
recondução do procurador ao cargo
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O senador Renan Calheiros: guerra a Janot(Ueslei Marcelino/Reuters) |
Com seu nome em três inquéritos na lista do petrolão, o
presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), desistiu da ideia de encampar
uma CPI para investigar o Ministério Público. Decidiu, como forma de retaliar o
MP por tê-lo incluído na lista de Rodrigo Janot, apostar em uma
articulação para rejeitar a recondução do Procurador-Geral da República, cujo
mandato vence em setembro. A avaliação é a de que seria difícil obter
assinaturas para abrir uma comissão tendo em vista o receio de muitos
parlamentares de abrir uma guerra contra o Ministério Público.
Renan
será investigado pelos crimes de corrupção passiva, formação de quadrilha e
lavagem de dinheiro. As diversas referências a ele demonstram, segundo o
Ministério Público, que o peemedebista atuava no esquema de corrupção e fraudes
em contratos na Petrobras. A força-tarefa de procuradores questiona as doações
eleitorais recebidas pelo senador, apontando que várias empresas estavam
envolvidas no esquema de corrupção de parlamentares e que elas utilizavam o
sistema de doações eleitorais para camuflar o real objetivo das movimentações
de dinheiro: o pagamento de propinas.
De acordo com informações de
senadores ligados a Renan, hoje não há nenhuma chance de recondução de Janot,
tal é a revolta contra ele em todos os partidos. O cargo de procurador-geral
depende da aprovação dos senadores, tanto na primeira indicação quanto na
recondução. Rodrigo Janot já está em campanha. Ele vinha fazendo visitas
constantes aos senadores para pedir voto. Com a abertura das investigações, a
situação dele piorou.
O líder
do PT no Senado, Humberto Costa (PE), por exemplo, subiu à tribuna da Casa
nesta segunda-feira para dizer que o procurador foi seletivo ao recomendar o
arquivamento de quatro investigações e abertura de dezenas de outras. "O
procurador-geral da República é o homem mais poderoso da República, porque ele
tem o poder de acusar ou de inocentar alguém antes desse alguém ser julgado -
porque no Brasil é assim: o nome saiu, é bandido; o nome é citado, é
ladrão."
De
acordo com o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, um
dos principais delatores do escândalo do petrolão, o presidente da Associação
das Empresas do Estado de Pernambuco, Mario Beltrão, pediu que o ex-dirigente
da estatal viabilizasse 1 milhão de reais para a campanha do petista ao Senado,
em 2010. "Quando Mario Beltrão solicitou a quantia para a campanha de
Humberto Costa estavam reunidos apenas o depoente [Paulo Roberto] e Mario
Beltrão. Autorizou o pagamento porque Humberto Costa era um expoente dentro do
PT, e a fonte de pagamento da quantia solicitada foi o caixa comum do PP",
diz trecho da delação premiada de Paulo Roberto Costa.
Apontado
pelo doleiro Alberto Youssef como beneficiário de propina no valor de 3 milhões
de reais, o senador Fernando Collor (PTB-AL) também criticou Janot da tribuna.
"Constatamos até aqui, mais uma vez, que só nos resta lamentar a postura
parcial e irretratável frente a todo o processo de um grupelho instalado no
Ministério Público que, oportunamente, passou a influenciar e a ditar a atuação
do Procurador-Geral da República", afirmou o senador.
Conforme
revelou VEJA, há diversas provas do envolvimento de Fernando Collor de Mello no
esquema de fraude e corrupção na Petrobras. Os investigadores encontraram, por
exemplo, um comprovante de depósito de 8.000 reais feito pelo doleiro Alberto
Youssef na conta pessoal do senador do PTB e rastrearam o repasse de 17.000
reais para uma empresa dele em Alagoas. Na sequência, surgiram mais sete
depósitos diretos para o parlamentar. O ex-ministro Pedro Paulo Leoni Ramos,
que atuou no governo Collor, é apontado como um dos sócios de Youssef no
laboratório fantasma Labogen, por meio do qual o doleiro atuava em fraudes no
Ministério da Saúde. Em entrevista a VEJA, a contadora de Youssef Meire Poza
afirmou que os depósitos foram feitos a pedido de Leoni Ramos.
Nas
conversas com integrantes do partido logo após a divulgação da chamada
"lista de Janot", na sexta-feira, Renan chegou a manifestar o desejo
de criar uma CPI. Ele afirmou que a lista foi montada por Janot por influência
política do Palácio do Planalto. Considerou suspeita a notícia de que a casa do
procurador foi invadida e criticou as reuniões que ele teve com o ministro da
Justiça, José Eduardo Cardozo, antes da divulgação da lista. A ideia da criação
da CPI foi abandonada, pelo menos por enquanto.
Fonte: Veja
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