Por Cristian Klein
O plano
de Roseana é realizar uma manobra engenhosa - ou "escandalosa", de
acordo com a oposição - para que Luís Fernando assuma o governo e, com a
visibilidade de seis meses no cargo, dispute a reeleição em outubro em melhores
condições
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A meta da família Sarney é que Luís
Fernando Silva seja ‘ungido’ o candidato do grupo
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A política no Maranhão está em dias decisivos com o
anúncio e o fim do mistério da governadora Roseana Sarney (PMDB) sobre que
estratégia adotará para manter uma hegemonia que já dura 48 anos no Estado: se
conclui o mandato ou se renuncia para concorrer ao Senado.
Acossada
pelo favoritismo do pré-candidato do PCdoB, Flávio Dino, Roseana tem feito de
tudo para alavancar o nome do seu secretário de Infraestrutura, Luís Fernando
Silva (PMDB). Desde o ano passado, o plano de Roseana é o de realizar uma
manobra engenhosa - ou "escandalosa", de acordo com a oposição - para
que Silva assuma o governo e, com a visibilidade de seis meses no cargo,
dispute a reeleição em outubro em melhores condições.
O
primeiro passo foi tirar uma peça do tabuleiro e indicar, em novembro do ano
passado, o então vice-governador do PT, Washington Oliveira, para o cargo de
conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Sem o vice, o segundo passo
é a desincompatibilização de Roseana que, caso se confirme nesta semana,
deixaria vago o cargo de governador.
Nesta
situação, muito rara, a legislação prevê que os 42 deputados da Assembleia
Legislativa realizem eleição indireta para escolher um novo governador, para
cumprir mandato-tampão até o fim do ano.
UMA PEDRA NO CAMINHO - A meta
da família Sarney é que Luís Fernando Silva seja ungido o candidato do grupo e
vença a eleição na Assembleia. O problema está neste terceiro passo. A manobra
esbarra no presidente da Casa, Arnaldo Melo, que ameaça se lançar à disputa, o
que frustraria a estratégia de Roseana.
Apesar
de ser também do PMDB, Melo é um político de perfil mais independente. Chegou a
apoiar o governador do PDT Jackson Lago, que liderava a oposição à família
Sarney, teve o mandato cassado em 2009 e morreu em 2011.
No
início da legislatura, o deputado estadual causou um estrago nas pretensões dos
líderes do grupo político ao se eleger presidente da Assembleia contra Ricardo
Murad, apoiado pelo clã Sarney. Murad retirou-se da disputa ao antever a
derrota.
Arnaldo
Melo extrai seu poder da relação cultivada ao longo dos anos com os pares da
Assembleia. Está no sexto mandato consecutivo na Casa. A previsão é que seria
eleito com folga, caso Roseana de fato se afaste do cargo.
Toda a
indecisão da governadora - que leva a classe política local a uma bolsa de
apostas - teria como objetivo tirar de Melo o compromisso de que não
atrapalhará a manobra da família Sarney, iniciada no ano passado.
A
pré-candidata do PPS ao governo, a deputada estadual Eliziane Gama, afirma que
Roseana concorrerá ao Senado e sua indefinição pode ser entendida como uma
"pressão" para que o presidente da Assembleia desista de entrar no
caminho de Luís Fernando Silva.
Eliziane
diz que para a vaga ao Senado Roseana ainda é uma candidata competitiva, mas
que na disputa para o Palácio dos Leões o grupo Sarney "chegou ao
ocaso" e qualquer que seja o desfecho "do lado de lá" - sobre a
desincompatibilização da governadora e quem, eventualmente, irá substituí-la -
não altera as chances "do lado de cá", da oposição.
"A
Roseana está muito indefinida. O governo está totalmente enrolado. O Luís
Fernando não sai do lugar nas pesquisas. Se assumisse o cargo [pela eleição
indireta], teria mais visibilidade. É uma tentativa de guinada. Mas há um
cansaço", afirma.
Mesmo
aliados do grupo Sarney, consultados pelo Valor, reconhecem que há uma
"fadiga de material". O grande indicador seria a alta popularidade de
Flávio Dino - que ficou em segundo lugar na última eleição para governador e
teria agora, de acordo com pesquisas, pouco mais de 45% das preferências. Luís
Fernando Silva teria por volta de 20%.
Dino é
ex-presidente da Embratur e sua candidatura em 2010 rachou o PT regional, que
ficou dividido entre ele e Roseana, mas acabou apoiando oficialmente a
reeleição da governadora, em virtude da intervenção feita pela direção nacional
petista. Desta vez, sem a presença de líderes que se opunham à aliança com a
família Sarney e se filiaram a outros partidos, o apoio do PT ao PMDB está
consolidado.
O
deputado federal Domingos Dutra, que se transferiu para o Solidariedade,
denunciou nesta semana, na tribuna da Câmara, em Brasília, a estratégia do PMDB
de eleger Luís Fernando Silva indiretamente. "Os 6 milhões de maranhenses
vão ser substituídos por 42 deputados, ou seja, a oligarquia Sarney transforma
as instituições do Estado em um curral, em uma propriedade", atacou.
O
também ex-petista e deputado estadual Bira do Pindaré, que se mudou para o PSB,
qualifica a manobra de eleger um governador, na sua opinião,
"biônico", de "escandalosa". O parlamentar diz acreditar
que Roseana concorrerá ao Senado em razão de dois fatores: a tradição de a
família ter interlocução e poder no Congresso diante do governo federal e a
necessidade de ter imunidade parlamentar, para evitar riscos em possíveis
processos judiciais. "Não acredito que ela fique no cargo", afirma o
pessebista.
Já o
ex-ministro do Turismo e deputado federal Gastão Vieira (PMDB), um dos líderes
do grupo político da família Sarney, aposta que Roseana permanecerá no cargo
até o fim do mandato. "Ela vai ficar", diz. O parlamentar afirma que
a decisão não foi comunicada ao grupo, mas que a governadora tem dado todos os
indícios nesta direção. Vieira conta que viajou com Roseana no fim de semana e
inferiu qual será o desfecho do "vai-não-vai" pelo discurso da
mandatária. A governadora pediu a empreiteiros presentes em cerimônia no
interior que acelerassem outras obras em andamento no Estado.
Para o
deputado, isso seria um indicador de que Roseana quer concluir logo seus
projetos - e reivindicar o crédito por eles, melhorando sua imagem - antes que
a oposição, caso vença as eleições, o faça. Outro sentimento é o de que
Roseana, pela quantidade de cargos que já exerceu - já foi quatro vezes
governadora, senadora e deputada federal - e pelas situações de falta de
recursos e crises em sua administração (como o caos no sistema penitenciário)
estaria cansada da política. Vieira atribui importância secundária à
insistência de Arnaldo Melo em se eleger governador, no lugar de Luís Fernando
Silva.
Mesmo
assim, Gastão Vieira não põe todas as suas fichas nesta decisão e afirma que
"tudo pode mudar de hoje até sexta-feira". E cita a passagem do
Sermão da Quinta Dominga da Quaresma (1654), em que o Padre Antonio Vieira
menciona a instabilidade climática no Estado. "No Maranhão, até o sol e os
céus mentem."
INDEFINIDOS - Se
confirmada a permanência de Roseana até o fim do mandato, o deputado é um dos
pré-candidatos para concorrer à vaga ao Senado. O outro é o suplente de senador
Lobão Filho (PMDB), que está no exercício do cargo no lugar do pai, o ministro
das Minas e Energia Edison Lobão. O terceiro nome do grupo é o do deputado
federal licenciado e secretário estadual Pedro Fernandes (PTB), que reivindica
a candidatura ao alegar que a vaga em disputa é ocupada pelo senador do mesmo
partido, Epitácio Cafeteira. "Sou a favor da forma mais democrática de
decisão. Faz uma pesquisa e vê quem está na frente. É a solução que dá menos
trauma", defende Gastão Vieira. Hoje, quem rivaliza com Roseana nas
pesquisas eleitorais para o Senado é o vice-prefeito de São Luís, Roberto Rocha
(PSB).
Fonte: Valor Econômico
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