O novo partido deve preservar a
sigla e o número 40 do Partido Socialista Brasileiro, mas será mais forte no
parlamento, com 44 deputados e entre sete e nove senadores
A terceira via, projeto
interrompido com a morte de Eduardo Campos e o fracasso de Marina Silva na
eleição presidencial de 2014, deve ser retomada até junho, com a fusão do PSB
com o PPS. O novo partido deve preservar a sigla e o número 40 do Partido
Socialista Brasileiro, mas será mais forte no parlamento, com 44 deputados e
entre sete e nove senadores.
A pressa se justifica: o novo PSB
quer tudo pronto a tempo de disputar as eleições municipais de 2016 como uma
força efetiva e capaz de consolidar a terceira via como proposta alternativa
viável ao PT e PSDB na sucessão da presidente Dilma Rousseff, em 2018.
A manutenção da sigla e do número
é uma aposta que faz sentido, à medida que o PSB não só é duas vezes maior que
o PPS, como tem um "recall" de 23 milhões de votos de Marina na
última eleição para presidente. Outra aposta é a prioridade dada às eleições
nas grandes cidades. Não apenas pelos nomes competitivos que o partido dispõe
para a disputa, como por se tratar de um território cada vez mais hostil ao PT,
devido ao desemprego e à inflação crescentes, e à corrupção na Petrobras, problemas
que devem adentrar 2016. Além das dificuldades do concorrente à esquerda, o
PSDB também não apresenta novidades nos grandes centros para a disputa.
A um ano e meio das eleições, as
opções do novo partido parecem promissoras. Está na disputa do chamado Triângulo
das Bermudas, onde se concentram os maiores colégios eleitorais do país. Em São
Paulo, a senadora Marta Suplicy, de saída do PT para o PSB, é um nome que deve
polarizar a eleição; no Rio, o senador Romário (PSB) apareceu nos primeiros
lugares em uma pesquisa do instituto GPP, divulgada semana passada. O PSB faz
uma gestão bem avaliada em Belo Horizonte, onde o prefeito Márcio Lacerda
articula uma candidatura própria à sucessão. Ele já tem relação histórica com o
PPS. Deve buscar apoio do PSDB.
O novo PSB também tem boas apostas
em outros colégios eleitorais importantes, a começar do Recife, capital de
Pernambuco, cidade e Estado simbólicos na trajetória dos dois partidos. O PPS é
sucedâneo do antigo Partido Comunista Brasileiro, o PCB ou simplesmente
"Partidão", para os mais íntimos, cuja história remonta a 1922. O PSB
surgiu no fim da ditadura do Estado Novo, a partir da "Esquerda
Democrática", com a redemocratização do país.
"A questão democrática é que
distinguia o PSB dos comunistas, que defendiam a ditadura do
proletariado", diz o deputado Roberto Freire, presidente do PPS e - na
origem - o primeiro a falar de fusão com o então presidente do PSB, Eduardo
Campos, quando articulavam sua candidatura a presidente.
Freire e o presidente do PSB,
Carlos Siqueira, integrante do partidão na juventude, lembram que o partido e o
PCB estiveram juntos na Frente do Recife que elegeu Miguel Arraes ao governo do
Estado, antes do golpe militar de 1964. Depois aliaram-se na eleição de
Pelópidas da Silveira para prefeito do Recife, o primeiro de capital brasileira
eleito pelos socialistas, depois sucedido pelo próprio Arraes. O principal
líder da reforma agrária à época, Francisco Julião, o líder das Ligas
Camponesas, era do PSB. Na redemocratização, a relação do PSB com Pernambuco se
estreitou com a volta de Arraes e reforçada depois por seu neto Eduardo Campos.
Recife atualmente é governada pelo
prefeito Geraldo Júlio, do PSB, forte candidato à reeleição. No principal
colégio eleitoral do Nordeste, Salvador, a terceira capital do país em número
de votos, ainda são fortes os vínculos do PSB com o PT, mas é cogitada a
candidatura da senadora Lídice da Mata. No Ceará, a prioridade maior é manter afastado
os irmãos Ciro e Cid Gomes. Eles têm a fama de ter acabado com o PPS cearense -
Ciro foi candidato a presidente pelo partido - e de tentar destruir o PSB, em
aliança com o PT, quando Eduardo Campos rompeu com o governo federal para ser
candidato.
O candidato deve ser do PPS em São
Luis e, talvez, Manaus. Os nomes mais citados hoje são os dos deputados
federais Eliziane Gama e Hissa Abrahão - eleito vice de Arthur Virgílio (PSDB),
rompeu com o tucano, renunciou e foi eleito deputado federal. O prefeito de
Vitória, Luciano Rezende (PPS), deve disputar a reeleição pelo novo partido.
A futura legenda enfrenta uma
dificuldade: uma resolução do TSE não considera que fusão resulte em novo
partido e, portanto, não se constitui em porta de entrada para parlamentares,
sem o risco de perda de mandato. Mas Carlos Siqueira diz que o partido vai
brigar na justiça para garantir esse direito. Além disso, há um veto
presidencial para ser votado que, se for derrubado, possibilitará a porta de
entrada no caso da fusão. PSB e PPS vão lutar nos dois campos, embora digam que
o objetivo não é atrair gente e sim criar uma força de esquerda alternativa ao
PT.
A decisão sobre a fusão ainda
depende da aprovação de convenções nacionais dos dois partidos, cuja data
prevista para serem realizadas - as duas no mesmo dia - é 20 de junho. Até lá,
cada legenda tem procedimentos burocráticos a fazer, inclusive levantamento dos
bens e como a fusão se dará. O PPS deve ficar com um terço da direção nacional
e das estaduais. Os trâmites para a fusão correm bem, com poucas dificuldades
em algumas seções regionais, caso, por exemplo, do Amapá.
O PSB considera-se independente do
governo e o PPS, oposição. "Embora sejamos a nossa história, tanto um
partido quanto o outro, nós vamos nos juntar para formar, a partir de uma visão
de esquerda democrática, uma nova instituição política de esquerda democrática
que se contrapõe a uma visão autoritária, mas que também reivindica, com base
em sua própria história, o direito de pensar o futuro do país", diz Carlos
Siqueira.
"Alguns ficam imaginando que
nós, do PPS, somos quase linha auxiliar do PSDB. Visão equivocada. A gente
votou com o PSDB e participa de alguns governos tucanos porque somos oposição
ao governo que aí está. Não tínhamos como fazer. Agora nós vamos juntos ter,
concretamente, uma alternativa a essa polarização", afirma Freire. "É
uma terceira via. Esse é o quadro."
O primeiro passo para a
consolidação do projeto é 2016, mas 2018 está na mira das lideranças da futura
legenda. Freire e Siqueira não descartam apresentação de candidato próprio a
presidente. Freire diz apostar em uma nova liderança e Siqueira não arrisca
palpite. Mas não esconde a admiração pelo ex-presidenciável José Serra (PSDB),
por sua vez político próximo de Freire. Retomando o discurso da "nova
política", defendido por Eduardo Campos e Marina Silva na campanha
presidencial de 2014, eles estão afinados na defesa de um partido que se diz de
conteúdo programático moderno, menos ideológico e mais voltado para a melhoria
da qualidade de vida da população -muitas delas manifestadas em demandas nos
protestos de rua.
Fonte:
Valor Econômico
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