![]() |
Parte da área que foi aterrada para construção de uma refinaria da Petrobras no Maranhão |
A
desistência da Petrobras de construir a maior refinaria do país trouxe não só
prejuízo social e financeiro, como deixou um extenso dano ambiental e
preocupação aos municípios de Bacabeira (61 km de São Luís) e Rosário (69 km de
São Luís), no Maranhão.
Uma área equivalente a 250 campos de futebol foi recebida
pela empresa e preparada para receber a refinaria Premium 1. Mas após tirar
moradores, destruir a vegetação e a área virar um “deserto”, o local ela será
devolvido ao governo do Estado.
Segundo números oficiais, desde 2008 a Petrobras investiu R$
1,82 bilhão (cerca de R$ 2,3 bilhões valores atualizados). No período, apenas a
preparação do terreno foi feita. Foi justamente a terraplanagem que tornaram a
área hoje imprestável para a agricultura.
“Para estabilizar o solo, eles colocaram muito calcário na
terra, e ele corre para os riachos. Tiraram também e vegetação nativa, hoje só
tem capim numa área imensa. Todos os animais que estavam nessa área fugiram ou
morreram. Os igarapés estão aterrados, os peixes morreram”, disse o presidente
do Comitê de Meio Ambiente de Rosário, Joaquim Francisco de Sousa.
Para construir a refinaria, a Petrobras precisou retirar
famílias que viviam na região, e a terraplanagem destruiu grande parte da
vegetação. O aterramento também causou danos aos riachos da região. É em
Rosário que os danos ambientais mais graves podem ser vistos.
No município, cerca de 100 famílias foram retiradas para as
obras. Quem era agricultor na região foi morar em duas agrovilas, que –segundo
os moradores– não possuem estrutura adequada.
“Tiraram três povoados instalados em uma área boa, cheia de
igarapés, córregos. Agora, a região sofre não somente com a erosão, como a área
virou um deserto. A tendencia é virar área de desertificação e ficar só com um
capim rasteiro”, disse Sousa.
Remanejados
para área ruim - O economista Francisco Sérgio Barreto, 49,
foi um dos que vivia na área e precisou sair para dar espaço às obras da
refinaria. Hoje, ele é coordenador de um projeto de revitalização da terra e
relata os prejuízos causados com a obra.
“A área
dada aos moradores é ruim, tem lugar onde não tem água. Onde vivíamos havia
água, o terreno era maravilhoso. Nos tiraram, e depois dessas obras, não há
mais nada o que ser feito lá; a área não serve mais convívio humano. A não ser
que seja um ‘favelão’”, disse.
Segundo Barreto, a Petrobras concedeu uma área com 30 lotes
e 30 casas e distribuiu a quem quis continuar vivendo na região –outros
moradores prefeririam se mudar. Até hoje, ele diz que não receberam a posse da
nova terra.
“Lá existia um conjunto de cinco riachos, que foram
transformados em canal para passagem de esgoto. Hoje, não há mais peixe”,
disse.
Barreto afirmou que a Petrobras teria sugerido preparar a
terra novamente e tentar a plantação de matéria-prima para biodiesel.
“Tem lógica. Seria uma forma de reempregar os agricultores
que perderam a terra, usando o conhecimento centenário deles, seja com mamona,
cana-de-açúcar”, afirmou.
Danos
sociais e econômicos - Em Bacabeira, os agricultores também têm
queixas, só que contra o governo do Estado.
Uma
bolsa de R$ 700 que era paga pelo governo pela mudança de local estaria
suspensa há três meses. Além disso, a moradora Maria José Souza relatou que
obras de compensação que foram prometidas não foram cumpridas.
“O Estado assumiu o compromisso com a gente, mas a única coisa
que cumpriu foi fazer as casas e a bolsa, que a gente passou a receber –e que
agora está atrasada. Mas a escola, o mini-posto de saúde e casa de forno para
fazer farinha não funcionam”, disse.
Com a desistência da Petrobras da obra, o filho caçula desistiu
da vida em Bacabeira e foi morar em São Paulo –em dezembro foi trabalhar como
montador de torres.
“Ele trabalhava na obra da refinaria, mas agora, qual a
perspectiva? Quem está conseguindo oportunidade está saindo. Muita gente vendeu
as casas aqui na zona rural para construir imóveis na cidade e agora não têm a
quem alugar, ficou no prejuízo”, relatou.
Câmara investiga - Para
investigar os danos causados pelas obras, a Câmara criou uma comissão externa,
que realizou uma audiência pública em Bacabeira no último dia 17.
Segundo
a presidente da comissão, a deputada Eliziane Gama (PPS), as obras deixaram uma
“herança perversa” aos moradores, e a solução dos problemas deixados serão
cobrados da Petrobras.
“A ideia é devolver o terreno, mas queremos que algum
projeto seja feito, senão vai ter ocupação desordenada. É preciso planejamento,
mas não se tem nenhum projeto pra área”, afirmou.
O UOL solicitou, durante uma semana, respostas da Petrobras
sobre os problemas e pediu explicações sobre o planejamento da área, mas não
obteve retorno.
O governo do Maranhão também não se pronunciou sobre as
contrapartidas que não teriam do cumpridas aos remanejados de Bacabeira.
Fonte: Uol
Nenhum comentário:
Postar um comentário