Empresário do Rio Grande do Norte diz que deu quantia a José
Agripino Maia em 2010 para manter fraude no Detran. Ex-coordenador da campanha
de Aécio, senador afirma ser vítima de “infâmia”
![]() |
Senador Agripino Maia (DEM-RN) |
Um empresário do Rio Grande do Norte admitiu ter
pagado propina para aprovar, na Assembleia Legislativa, uma lei sob medida para
os seus negócios no Detran estadual. Em entrevista ao Fantástico, da TV Globo,
George Olímpio contou ter dado dinheiro ao atual presidente da Assembleia, ao
ex-governador Iberê Ferreira de Souza (PSB), já falecido, ao filho da
ex-governadora Wilma Faria (PSB), Lauro Maia, e ao senador José Agripino Maia
(DEM-RN), presidente nacional do DEM, ex-líder do partido e coordenador-geral
da campanha presidencial de Aécio Neves (PSDB).
A fraude, de acordo com ele, começou com a
prestação de serviços de cartório de seu instituto para o Detran do Rio Grande
do Norte. Cabia à empresa de George cobrar uma taxa de cada contrato de carro
financiado no estado. Segundo ele, de cada R$ 75 cobrados pelo serviço, R$ 15
foram distribuídos como propina a integrantes do governo entre 2008 e 2011.
O empresário contou que,
em seguida, comprou o apoio de políticos locais para aprovar uma lei que
tornava obrigatória a inspeção veicular no estado, inclusive para carros zero
km. Caberia novamente à sua empresa o comando dos serviços, mas o negócio foi
barrado pelo Ministério Público por suspeita de fraude. As revelações da
Operação Sinal Fechado, na época, levaram à prisão em caráter preventivo o
então suplente de Agripino, João Faustino (PSDB-RN), acusado de atuar como
lobista do grupo, como mostrou o Congresso em Foco.
Em entrevista ao Fantástico, George Olímpio afirmou
que deu R$ 1 milhão a Agripino após pedido feito pelo senador. O delator afirma
que Agripino lhe disse, inicialmente, ter conhecimento de que ele havia
destinado R$ 5 milhões para a campanha de Iberê. O empresário contestou a
informação e disse que havia repassado R$ 1 milhão ao então governador.
“Ele [Agripino] disse: pois é, e tal, como é que
você pode participar da nossa campanha? Eu falei R$ 200 mil. Disse: tenho
condições de lhe conseguir esse dinheiro já. Estou lhe dando esses R$ 200 mil,
na semana que vem lhe dou R$ 100 mil. Ele disse: ‘pronto, aí vai faltar R$ 700
mil para dar a mesma coisa que você deu para a campanha de Iberê’. Para mim,
aquilo foi um aviso bastante claro de que ou você participa ou você perde a
inspeção. Uma forma muito sutil, mas uma forma de chantagem. R$ 1,15 milhão foram
dados em troca de manter a inspeção”, disse o delator ao Fantástico.
“INFÂMIA” - Por telefone, nos Estados Unidos, José Agripino
afirmou à TV Globo que conhece George Olímpio e que tem amigos em comum com
ele. Mas negou ter pedido ou recebido qualquer quantia do empresário.
“Eu nunca pedi nenhum dinheiro, nenhum valor a
George Olímpio. E conforme ele próprio declarou em cartório, não me deu R$ 1
milhão coisíssima nenhuma”, respondeu o senador. O presidente do DEM enviou ao
Fantástico um documento de 2012, que George Olímpio teria registrado em
cartório. “É uma infâmia, uma falta de verdade. Está completamente falso e
faltando com a verdade”, afirmou José Agripino.
Todo o material da investigação que se refere ao
senador foi enviado à Procuradoria-Geral da República, já que ele só pode
responder a investigações com o aval do Supremo Tribunal Federal (STF).
RESIDÊNCIA OFICIAL - O empresário contou, ainda, que o esquema de
corrupção era negociado na residência oficial da então governadora Wilma de
Faria, hoje vice-prefeita de Natal. O negociador, segundo ele, era Lauro Maia,
filho de Wilma. “A gente marca o encontro no escritório, exatamente para eu
repassar esse dinheiro a ele. Todo mês era feito o encontro de contas”, afirmou
o delator.
George disse ter contado
com o apoio do atual presidente da Assembleia, o deputado estadual Ezequiel
Ferreira (PMDB), para aprovar a obrigatoriedade da inspeção veicular sem
qualquer discussão nas comissões temáticas da Casa. “Eu digo: de quanto é que
seria essa ajuda? Aí o Ezequiel me diz: George, uns 500 mil. Eu tenho como
pagar 300 mil. Eu dou 150 quando for aprovado e os outros 150 você me divide em
três vezes”, contou o delator. Ezequiel foi denunciado semana passado pelo
crime de corrupção passiva.
FATURAMENTO BILIONÁRIO - Em 2011, quando o esquema da inspeção veicular
veio à tona com a Operação Sinal Fechado, 34 envolvidos foram denunciados,
inclusive o empresário. Mas só no ano passado ele decidiu colaborar com as
investigações.
Com essa fraude, o grupo criminoso pretendia faturar
R$ 1 bilhão ao longo de 20 anos de exploração de uma concessão pública, segundo
o Ministério Público. “Ele estava se sentindo abandonado pelos comparsas,
pelos demais membros da organização criminosa e ele, temendo ser
responsabilizado penalmente sozinho, procurou o Ministério Público em troca de
colaborar para ter a obtenção de alguma espécie de benefício”, disse a
promotora de Justiça Keiviany Silva de Sena. Assim como Lauro Maia, Ezequiel e
a família de Iberê negaram qualquer envolvimento com o caso.
Fonte: Congresso em Foco
Nenhum comentário:
Postar um comentário